Moro dispara contra Bolsonaro e o acusa de falsidade ideológica; presidente pode ser processado pela PGR

Presidente pode ficar 180 dias afastado (Marcelo Correa/PR)

O ministro da Justiça Sergio Moro informou, em coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira (24), que deixará o governo Bolsonaro. O ex-juiz não concordou com a exoneração do diretor-geral da PF (Polícia Federal), Maurício Valeixo, e pediu para deixar o comando da pasta. A demissão de Valeixo foi publicada nesta sexta no Diário Oficial da União.

+ Após demissão e acusações de Moro, Bolsonaro afirma que vai ‘restabelecer a verdade’ ainda hoje

Além de se despedir do cargo, Moro evidenciou detalhes que podem complicar a vida do presidente da República, inclusive, na esfera criminal. O ex-magistrado apontou que o chefe do Executivo pode ter cometido crimes de falsidade ideológica, prevaricação, e obstrução da Justiça. O BHAZ consultou especialistas da área para entender o que pode ocorrer a partir de então.

+ Moro pede demissão e acusa Bolsonaro de interferência política na PF: ‘Tiraram minha carta branca’

Falsidade ideológica

Em coletiva de imprensa, Moro afirmou que não assinou a exoneração de Valeixo. No entanto, a assinatura eletrônica do ex-juiz consta no Diário Oficial da União. Caso o agora ex-ministro esteja falando a verdade, Bolsonaro pode ter cometido o crime de falsidade ideológica.

Ex-membro do MPF (Ministério Público Federal), Eugênio Pacelli explicou ao BHAZ que a PGR (Procuradoria Geral da República) pode oferecer uma denúncia contra o presidente para que esse suposto delito seja analisado. “Se dois terços da Câmara dos Deputados aceitar a denúncia, e o STF (Supremo Tribunal Federal) receber a denúncia, Bolsonaro fica afastado por 180 dias”, explicou o especialista.

O professor de Direito Constitucional do IBMEC e da Faculdade Arnaldo, Vladmir Feijó, concorda com o colega. “O ministro alega que não assinou o despacho. Se ele não está mentindo, alguém teve acesso à assinatura eletrônica dele”, explicou Feijó.

Outros crimes

Moro comentou ainda que estava deixando o cargo porque perdeu a “carta branca” e que não concordava com interferências políticas em ações da PF. Ele chegou a dizer que Bolsonaro quer na direção da corporação alguém que lhe repasse informações por telefone. No entanto, o chefe de Estado não deveria saber sobre o andamento de apurações da polícia.

Por isso, Feijó ressalta que Bolsonaro pode ter incorrido no crime de prevaricação, que é quando um funcionário público usa de seu poder para obter vantagens, como, por exemplo, informações. Além disso, o advogado alerta para a questão da obstrução da Justiça. “A obstrução ocorre quando se interfere na separação dos poderes”, argumenta.

Crime de responsabilidade

Três especialistas ouvidos pelo BHAZ concordam que o presidente da República já cometeu o crime de responsabilidade ao participar de um ato favorável à Ditadura. O caso ocorreu no último domingo. A Constituição de 1988 veta apoio as regimes que não levam em consideração as instituições democráticas. “Um presidente não pode atentar contra as instituições”, declarou o professor de Direito Constitucional da UFMG, Fernando Jayme.

Com relação ao discurso de Moro, Jayme pondera que Bolsonaro é o chefe do Executivo e não precisa da anuência do ministro para demitir o diretor-geral da Polícia Federal. No entanto, Moro pode ser convocado como testemunha para elucidar questões de interferência do Executivo em investigações, ocultação de provas, entre outros.

Aline Diniz[email protected]

Editora do BHAZ desde janeiro de 2020. Jornalista diplomada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) há 10 anos e com experiência focada principalmente na editoria de Cidades, incluindo atuação nas coberturas das tragédias da Vale em Brumadinho e Mariana. Já teve passagens por assessorias de imprensa, rádio e portais.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!