O Carnaval BH 2025 se aproxima do fim, mas quem trabalha na folia já tem demandas para melhorar a festa no ano que vem. Ambulantes se organizam para lutar contra a venda exclusiva de cervejas da marca patrocinadora na folia de 2026.
Adjailson Severo, presidente do Sindicato do Trabalhadores Ambulantes de BH, acredita que a restrição em relação às bebidas vendidas nas avenidas principais foi o principal gargalo da categoria neste ano.
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“Já vamos começar a dialogar com a Belotur e a patrocinadora que eventualmente vier a fechar parceria com a prefeitura”, afirma.
Neste ano, a Ambev foi a patrocinadora oficial do Carnaval de BH, com um aporte de R$ 5,9 milhões pelos direitos de marca e ativações de publicidade durante a festa de rua. A marca é detentora de rótulos de cerveja como Skol, Budweiser, Original e Stella Artois. Uma de suas principais concorrentes, a Heineken, teve a venda proibida em 10 pontos centrais dos blocos de acordo com as regras do contrato.
Procurada, a Prefeitura de BH informou que “está sempre aberta ao diálogo e disposta a ouvir as demandas dos ambulantes”, “buscando soluções equilibradas que beneficiem todos os envolvidos no Carnaval da cidade”.
Impacto
Vendedores ouvidos pelo BHAZ precisaram usar a criatividade para não deixar a medida impactar as vendas. Wagner Santos, de 58 anos, evitou as ruas com restrições.
“Geralmente, eu prefiro trabalhar em bairros menores, onde a concorrência é menor, mas, neste ano, fiz isso principalmente porque lá eu poderia vender Heineken”, comentou o homem que trabalha como ambulante há 17 anos.
Ademilho Leão, de 56 anos, atuou nas ruas com exclusividade de rótulos da Ambev. “Muitas pessoas chegavam pedindo uma marca que não podia vender, então eu conversava para explicar que há uma restrição para todo mundo. Eu tinha que me esforçar bastante para conquistar o cliente e oferecer a ele outras marcas”, comenta.
“Eu acho que isso [restrição de marca] não poderia acontecer nunca na rua. Se fosse festa fechada, não teria problema. E não só por causa da Heineken. Eu trabalho com outras marcas, como a BG [Baixa Gastronomia], que é da nossa região. Eu sempre gosto de oferecer o produto da nossa região para fortalecer, mas nem isso eu pude”, completa Ademilho Mourão
Mesmo com a limitação de rótulos, os dois ambulantes viram as vendas aumentar em relação ao ano passado. Para eles, a explicação está na redução do número de trabalhadores, feita pela prefeitura. A quantidade de cadastrados caiu de 24 mil para pouco mais de 11 mil. Destes, 9.580 retiraram as credenciais. “Eu vendi três vezes mais que no ano passado”, celebra Ademilho.
PBH nega conflito
Em entrevista ao BHAZ durante o desfile de um dos principais blocos do fim de semana, Bárbara Menucci, presidente da Belotur (Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte), responsável pela produção da festa, negou conflito de interesses com a marca patrocinadora. Antes de assumir o cargo na prefeitura, Bárbara já foi funcionária da Ambev.
“O edital de patrocínio estava aberto a qualquer empresa que quisesse participar conosco. O edital foi aberto no ano passado. Hoje, as vias comerciais da Ambev, representam 2,44% do Carnaval de Belo Horizonte. Nós temos 275,3 quilômetros de blocos mapeados. As vias comerciais são 6,7 quilômetros. E é uma exclusividade apenas para cervejas. A Ambev, como uma boa parceira, ofereceu kits para os ambulantes, com isopor, ombrelone, colete e preço diferenciado”, destacou sobre os ganhos com a negociação.
Sobre a mudança no modelo de contrato com os patrocinadores para 2026, a Belotur destacou que “a seleção da patrocinadora do Carnaval de Belo Horizonte ocorreu por meio de chamamento público, em conformidade com a legislação vigente e respeitando os princípios constitucionais da Administração Pública, como Publicidade, Impessoalidade e Isonomia”.
“O processo foi aberto à participação de empresas de diversos setores, não se limitando ao ramo de cervejarias. No entanto, a única interessada na cota de Patrocínio Master, sob a chancela “Apresenta”, foi a Ambev”, completou.
“Vale ressaltar que a Ambev já patrocinou o Carnaval de Belo Horizonte em edições anteriores, incluindo em 2018, sob uma gestão diferente da atual. O patrocínio garantiu recursos essenciais para a festa, possibilitando um aumento de 70% na subvenção aos Blocos de Rua e de 40% aos Blocos Caricatos, fortalecendo ainda mais o evento”, ressaltou a PBH.