Marilia quer extinguir Guarda Municipal e vestibulares – e armar população

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Marilia Domingues foi a 13º sabatinada na rodada de entrevistas do BHAZ (Moisés Santos/BHAZ)

A candidata do PCO (Partido da Causa Operária) à PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), Marilia Domingues, promete acabar com a Guarda Civil Municipal; armar a população; inaugurar a maternidade Leonina Leonor Ribeiro; proibir despejos e cortes de energia e água durante a pandemia de Covid-19; além de lutar pelo fim dos vestibulares e para fixar o valor do salário mínimo em R$ 5 mil, além de torná-lo vitalício. Essas e outras informações foram reveladas em entrevista exclusiva ao BHAZ.

A estudante de Letras nascida em São Paulo é a 13ª candidata a participar da sabatina realizada pelo portal com todos os 15 postulantes a assumir a prefeitura a partir de 2021. Acompanhe a cobertura das eleições municipais em todas as nossas redes e clique no nome do candidato para conferir as entrevistas realizadas:

Marilia Domingues também quer estipular o fim dos hospitais particulares e a suspensão das atividades nas instituições de ensino da capital – mesmo que em regime remoto – até que a pandemia acabe. Além disso, a candidata também falou sobre as propostas do partido para a legalização do aborto, criticou a postura adotada pela atual gestão, de Alexandre Kalil (PSD), no combate ao coronavírus e explicou porque acredita que as eleições municipais são uma fraude.

População armada

Para aumentar a segurança da população de BH, a proposta da candidata do PCO é garantir o armamento dos cidadãos e acabar com a Guarda Municipal, que, segundo ela, não oferece segurança real aos moradores. “Se a pessoa está chegando em casa à noite, não tem um guarda municipal para impedir que ela seja surpreendida e assaltada. E, mesmo se ela for assaltada, ela não vai ter um amparo por parte desse sistema”, pontuou.

Na avaliação de Marilia Domingues, o caminho para mudar esse cenário seria entregar ao povo as ferramentas necessárias para se defenderem – motivadas por um senso de coletividade local. “A única forma de isso acontecer é que a organização de segurança seja feita pelos bairros, por pessoas que moram ali na localidade, conheçam as pessoas e tenham laços sociais que vão promover o interesse individual de proteger essa população”.

‘Máfia de ônibus’

A proposta de entregar o controle aos moradores se estende ainda para outros setores, como é o caso do transporte. Crítica do que ela chamou de “máfia de ônibus”, a concorrente pelo PCO defende que os próprios moradores se organizem para regular o transporte público da forma que acharem adequada. “O problema do transporte de BH é um problema da máfia de ônibus que a gente sabe que existe. Existe um interesse escuso por trás do monopólio do transporte em BH. A gente sabe disso porque, em todo ano eleitoral, a gente vê uma promessa de que o metrô vai ser aumentado, mas isso nunca acontece”, argumentou Marilia Domingues.

A candidata, que também promete investir em outros modais de transporte público – como ciclovias, VLTs e o próprio metrô – concorda com outros oponentes quanto à necessidade de eliminar esse monopólio, mas pretende fazê-lo de um jeito diferente: “A gente é favorável que a própria população controle, a partir de conselhos populares, os setores de transporte pelo seu próprio benefício”. A completa isenção de tarifas no transporte público também é uma das bandeiras do partido.

‘Que o patrão pague pela crise’

Já no caso das iniciativas privadas de mobilidade urbana, como é o caso dos aplicativos de transporte, a ideia é taxar os lucros das empresas e transferir os impactos dos trabalhadores para os “patrões”. “É importante destacar que o aplicativo de transporte é uma empresa internacional que está contratando trabalhadores locais. Quer dizer, a taxação não deveria ser dos trabalhadores, mas sim da empresa”, avaliou.

Marilia Domingues acredita, contudo, que a situação do transporte de aplicativos reflete uma situação mais ampla de precarização do emprego de modo geral. E, para solucionar este problema, a proposta é diminuir a jornada de trabalho dos belo-horizontinos, mas sem que isso provoque uma alteração do salário. “Se há menos demanda, que as pessoas trabalhem menos, mas que ganhem a mesma coisa. E, finalmente, que o patrão pague pela crise e não o trabalhador”.

Volta às aulas

Nenhum tipo de atividade, seja ela remota ou presencial, nas instituições de ensino da capital até que haja a distribuição de uma vacina contra a Covid-19. Este é o posicionamento da candidata do PCO, que acredita que o ensino à distância é uma “falsificação” da educação. “A gente [do partido] viu uma série de pessoas que tinham que assistir às aulas na TV Justiça, com uma aula qualquer, de qualquer ano”, lembrou Marilia Domingues ao citar a greve organizada pelo coletivo de jovens do partido contra o ensino remoto.

Para a candidata, essa situação é mais uma evidência de que o que acontece desde o início da pandemia em todo o país e em BH “na verdade não é um ensino, é uma medida burocrática para falar que continuou o ano”. “Isso não é educação para ninguém. A gente defende o cancelamento do semestre, volta às aulas só com vacina e, se houve um problema ou outro, que a gente resolva melhorando a qualidade do ensino”, continuou.

Questionada sobre os pais que dependem da retomada das atividades nas escolas para conseguirem trabalhar e garantir segurança financeira à família, a candidata defendeu que as crianças sejam cuidadas por uma “organização coletiva, mas não como são as escolas atuais”. “A gente está numa pandemia, não é que a gente vai ter uma situação ideal. Mas a gente não pode escolher entre supostamente ter educação, que também não é verdade, e milhões de pessoas morrerem por conta disso. Não é uma escolha real”, pontuou.

Fim do vestibular

Contrária ao pensamento de que os estudantes estariam “perdendo tempo” caso não tivessem nenhum tipo de atividade escolar, Marilia Domingues acredita que o real desperdício de tempo dos jovens é o vestibular. “O pessoal fala que os jovens vão perder tempo da sua vida por conta da situação da pandemia… Mas o que faz realmente os jovens perderem tempo é o próprio vestibular, que vários jovens ficam aí vários anos para tentar entrar e continuar o seu processo de formação estudantil”, pontuou.

Por isso, a ideia é acabar definitivamente com esse modelo de seleção para a graduação. “Que o desenvolvimento da juventude vá do ensino fundamental para o ensino médio e do ensino médio para o ensino superior, naturalmente. Essa é a nossa proposta”, defendeu a candidata, ao reforçar que o Estado garantiria a oferta de ensino superior para toda a população.

Salário mínimo de R$ 5 mil

Outra proposta da concorrente pelo PCO é aumentar o salário mínimo e garantir que todos os trabalhadores recebam pagamento vitalício: “A gente teve uma polêmica nos últimos tempos, porque a nossa proposta é um salário mínimo vital de R$ 5 mil, por exemplo”. Além disso, também está nos planos do partido o oferecimento de um auxílio emergencial da prefeitura, no valor de um salário mínimo, até o fim da pandemia.

Outra proposta de Marilia Domingues para apoiar os belo-horizontinos que mais estão sendo afetados pela pandemia de Covid-19 é proibir as ações de despejo e a suspensão de serviços básicos – como luz e água -, mesmo que haja inadimplência. “A gente vê uma situação de um crescimento enorme de moradores de rua, e é uma situação de pandemia. Em vez de impossibilitar só isso, [vamos] impossibilitar também o corte de água, de luz que vai cair sobre a população mais fragilizada”.

Bolsonaro deveria ter morrido?

Com um posicionamento fortemente contrário ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Marilia não discorda completamente a opinião do ex-colega de partido, Alexandre Flach – que, em 2018, quando concorria ao Governo de Minas pelo PCO, defendeu, em entrevista ao BHAZ, que Bolsonaro “deveria ter morrido”. Para ela, caso a morte do presidente fosse uma vontade da população, não haveria problema.

“Os cento e poucos mil mortos da população por conta dessa política talvez compartilhem [dessa opinião]”, disse. A candidata ainda pontuou que o partido não defende uma ação armada nesse sentido, mas que, pessoalmente, acredita na vontade dos brasileiros. “Ele [Flach] deve ter se utilizado do exemplo do próprio Mussolini, que acabou assassinado pela população. Não é uma questão que é partidária, a gente defende uma luta social. A população é quem escolhe isso”, completou.

No entanto, Marilia Domingues também defendeu que Bolsonaro “não é o único problema” do país. “A gente não leva a política dessa forma pessoalista, de forma acabada. A gente fala ‘Fora Bolsonaro’ porque é uma questão concreta para a população”, disse. A candidata ainda usou como exemplo a situação do Rio de Janeiro: “Tiraram o Witzel, mas a política continua direitista como era antes. O que modifica é a grande mobilização popular. Se a população decide isso, a gente não pode fazer nada”.

Bolsonarismo da esquerda?

Questionada se o PCO seria tão extremo quanto o Bolsonarismo, mas do espectro antagônico, Marilia Domingues negou e afirmou que a comparação trata-se de “uma colocação maldosa”. “A gente é o único que defende completamente o direito de expressão. A gente defende plenamente o direito de expressão porque, como a gente já colocou, a gente é contrário ao monopólio extremo da imprensa”, alegou, ao citar uma questão abordada anteriormente, sobre a imprensa.

O partido da candidata publicou um texto alegando ter sido atacado pela Globo e pelo Estado de Minas em matérias que diziam que Marilia Domingues era a única fazendo campanha distante de BH, de São Paulo. Indagada sobre o posicionamento do PCO em relação à liberdade da mídia, a estudante afirmou que “defende plenamente o direito de imprensa”.

“A gente considera que a monopolização da imprensa é um ataque ao próprio direito de imprensa. Porque o direito de imprensa é que ela seja plural, democrática e mostre várias posições. No caso do Brasil, isso não acontece. A gente tem uma das imprensas mais monopolizadas do mundo, então a gente critica esse monopólio enorme da nossa imprensa que ataca o direito democrático da gente exprimir as nossas ideias.

Uma pauta importante da candidatura de Marilia Domingues é a legalização do aborto. Segundo a própria, o intuito é não só permitir que a interrupção da gravidez seja uma escolha da mulher e ainda ir além. “É uma defesa do direito da mulher abortar, e não só isso: de um sistema de saúde que dê o amparo para a mulher se ela decide [abortar], se ela não decide”, defendeu.

Entre essas ferramentas que a candidata pretende implementar para garantir a possibilidade de escolha, está a inauguração da maternidade Leonina Leonor Ribeiro – para o caso das mulheres que escolham dar continuidade à gravidez. “Há o intuito de inaugurar e desenvolver tudo que vai beneficiar as mulheres, porque a gente vê que o fato de não ser permitido o aborto é o mesmo pelo qual não se inaugura a maternidade: os interesses das mulheres são sempre secundarizados”.

Fim dos hospitais particulares

Outra medida proposta para melhorar a oferta dos serviços de saúde na capital é a estatização de todos os hospitais particulares – mas aplicada de uma forma diferente da que existe atualmente. “Hoje em dia, quem controla [os serviços de saúde] é o ministro da Saúde, é alguém que não vai defender os interesses de quem está lá doente, sofrendo na favela. Na verdade, ele vai defender os interesses das pressões da burguesia, que querem ganhar alguma coisa com aquilo”, argumentou Marilia Domingues.

Para isso, na avaliação da candidata, a solução é a mesma proposta para áreas como segurança e transporte: entregar o controle aos moradores. “O que a gente defende é que a população controle os recursos que vão para esse sistema de saúde e que vão beneficiar a própria população”, defende a concorrente pelo PCO.

Na prática, isso se daria por meio da formação de conselhos locais eleitos pela população de cada bairro, que trabalhariam em conjunto com médicos da região para administrar o sistema de saúde. E, no caso dos hospitais cuja administração já é de responsabilidade do poder público, a proposta de Marilia é estimular uma pressão popular que exija a melhoria dos serviços: “Por conta da pandemia, vários postos passaram a se negar a atender a população, que muitas vezes marcou uma consulta, teve que esperar um ano e teve essa consulta desmarcada. É um absurdo completo”.

Veto aos belo-horizontinos?

O PCO disputou as eleições municipais para BH em 2008 e 2012 com Pepê, um capixaba; não lançou concorrente em 2016 e, neste ano, a cabeça de chapa é Marilia Domingues, uma paulistana. Questionada sobre a falta de espaço de belo-horizontinos na disputa pela prefeitura da cidade, a estudante afirmou que trata-se de “uma questão de situação”.

“Primeiro, a gente conhece BH. Eu mesma tive toda uma formação… eu estudei aqui por muitos anos e tudo mais, e fui pra São Paulo por questão de saúde. A gente já conhece aqui, a gente já militou, e é importante porque pra conhecer as pessoas, pra ter toda uma base, é necessário conhecer o local. e a gente tem uma base política, uma organização que vai nas fábricas nas favelas, a gente tem militante que mora na Serra e bate de porta em porta chamando o pessoal pra luta. Acho que esse é o essencial”, concluiu.

‘Eleições fradulentas’

Marilia Domingues ainda explicou o por quê afirma que as eleições das quais é concorrente são fraudulentas. “Porque tem 45 dias de campanha, a gente que é um partido pequeno tem uma série de dificuldades para se candidatar exatamente por infinitas questões burocráticas. Você tem que ter uma sede comercial, não pode ser residencial, uma série de documentos que se vc não tiver vc vai ser impugnado e vai ter que ter todo um aparato pra ir lá e fazer arrolamento do processo”, argumentou.

“É uma questão que exige recursos financeiros, então a gente vê que nesse sentido quem é beneficiado é quem tem dinheiro, quem consegue contratar uma campanha de rua e não uma campanha de militância como a nossa que é uma campanha idealista, que vai lá e chama as pessoas para militarem com a gente”, concluiu.

Edição: Thiago Ricci
Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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