Nem de longe o movimento atual da rua Sapucaí, no Floresta, em BH, faz jus à fama de point noturno da capital, título conquistado na última década. As muretas lotadas de jovens deram lugar a tapumes, máquinas e muita poeira, fruto do projeto da revitalização local, iniciada em junho. O primeiro quarteirão, entre a avenida Assis Chateaubriand e a rua Tabaiares, foi liberado nessa quarta-feira (18) para pedestres, mas, à noite, o cenário caótico, natural de toda obra, acaba levando a um problema maior: a sensação de insegurança. Com o movimento fraco, a rua ficou deserta e as vias estreitas destinadas a pedestres causam medo em quem precisa transitar pela região diariamente.
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Rosi Dias, proprietária do restaurante Salumeria Central, precursor da ocupação da rua, conta que decidiu fechar as portas do estabelecimento, tanto pela queda brusca nas vendas, de cerca de 80%, quanto pela insegurança.
“Roubaram meus cabos de energia e eu fiquei três dias sem conseguir operar, porque a Cemig só apareceu depois. Foram três dias de prejuízo. A rua virou um beco escuro, e aí as pessoas obviamente ficam com medo”, diz Rosi.
A empresária se queixa que, com as obras, a região ficou deserta, e o policiamento ficou a desejar, restando à casa encerrar a operação noturna. “Tem uma base da polícia ali na esquina mas eles raramente passavam. À noite, a polícia fica até às 23h30… Era impossível de ficar ali. Até para ir embora a gente tinha medo, ficou muito deserto, muito largado”, conta.
As obras impactam não apenas os comerciantes, mas também moradores, trabalhadores, frequentadores e visitantes do local. Pensando nisso, O BHAZ foi até a rua Sapucaí, no fim da tarde da última quinta (12), para entender o que mudou após o início da revitalização. Ainda que o público compartilhe o sentimento otimista em relação ao resultado, houve diversas reclamações em relação à falta de segurança, sobretudo, no período da noite.
A trabalhadora do setor imobiliário, Daniela Melo, de 40 anos, afirmou que, para os pedestres, a obra está “péssima”, devido às dificuldades enfrentadas durante o percurso. Desde que começou, parte da rua Sapucaí está interditada, deixando apenas o passeio, que é estreito, livre. “A longo prazo, tenho certeza que ficará ótimo, bonito e aconchegante, mas, por enquanto, está difícil”.
Segundo a atendente de telemarketing, Nacy Lorrayne, de 21 anos, entre as principais dificuldades estão a falta de iluminação e sujeira no local. “Saio do trabalho às 21h e, como pego ônibus em um lugar mais distante daqui, passo pelos “becos” escuros sozinha. Está muito perigoso, principalmente para quem é mulher. Sem contar a poeira que deixa o tênis todo empoeirado”, afirma.
O garçom Ander Lúcio, de 29 anos, também ressaltou o problema de segurança já que, segundo ele, ouviu diversos relatos de pessoas que são assaltadas e, até mesmo, esfaqueadas na rua. Para ele, ainda que a obra tenha um ponto positivo, problemas ligados à violência não devem ser ignorados. “A revitalização vai atrair muitos turistas, o que será bom para os comerciantes e trabalhadores daqui. Porém, não adianta nada se não houver tranquilidade, que é a maior questão atualmente”, disse.
O estudante Diego Garcia, de 16 anos, por sua vez, explicou que, durante as partes da manhã e da tarde, a região fica movimentada, não oferecendo nenhum risco. “Eu frequento a rua todos os dias da semana, por conta das minhas aulas na escola. Como eu saio com muitas pessoas, não vejo muito perigo. Certamente, a partir de 0h deve piorar, já que aqui está ficando muito vazio, bem diferente do que era antes”, contou.
Para Ruy Feliciano, de 39 anos, gerente de uma empresa localizada na Sapucaí, outra dificuldade é a indisponibilidade de trânsito no local. “Para pedestres, a situação está bem pior, pois, para pegar Uber, por exemplo, precisamos dar uma grande volta, o que é um pouco mais distante de onde trabalho”, disse. Ele também citou a falta de restaurantes abertos durante o horário de almoço. “A rua está muito vazia e, consequentemente, o comércio deu uma diminuída, o que tornou um problema para gente que trabalha aqui.
Obras no segundo e terceiro quarteirões continuam em andamento (Asafe Alcântara/BHAZ)
Tapumes são retirados
A revitalização da rua Sapucaí ocorre por quarteirões, e a entrega parcial do bloco entre a avenida Assis Chateaubriand e a rua Tabaiares foi realizada nesta quarta–feira (18), segundo informou a prefeitura em nota. Em visita ao local, o BHAZ constatou que foram retirados os tapumes da via, que está com novo calçamento, mas ainda sem finalização de paisagismo, por exemplo.
De acordo com a Sudecap, a obra está dentro do cronograma previsto. “A execução da requalificação urbana da rua Sapucaí está dividida em quarteirões, compreendendo o trecho entre as avenidas Assis Chateaubriand e Contorno, num total de cinco quarteirões”.
“A entrega parcial do quarteirão entre a av. Assis Chateaubriand e a rua Tabaiares foi realizada, com a retirada dos tapumes e liberação para uso dos pedestres e comerciantes. As obras no segundo e terceiro quarteirões continuam em andamento”, informou a Sudecap.
O BHAZ questionou a prefeitura em relação a segurança do local, e o órgão respondeu que a Guarda Civil Municipal “atua para assegurar a segurança dos servidores, cidadãos e do patrimônio público em praças, parques, unidades de saúde, escolas municipais e demais equipamentos da Prefeitura, em todas as regiões da capital”.
“Essa proteção também se estende ao entorno desses locais, conforme estabelecido pela Lei Federal 13.022/2014. A Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte trabalha de maneira integrada com as demais forças de segurança, como a Polícia Militar e a Polícia Civil, contribuindo para a proteção da população e a manutenção da ordem pública”, concluiu a administração municipal.
A Polícia Militar, por meio do Primeiro Batalhão, informou, em comunicado ao BHAZ, que foram implementadas diversas medidas para garantir a tranquilidade e segurança de todos os frequentadores, moradores e trabalhadores da região. “O patrulhamento na área foi reavaliado e adequado à nova realidade do local, considerando as mudanças temporárias no espaço urbano e o impacto das obras”, explicou.
Além disso, ainda segundo a instituição de segurança, operações específicas foram criadas para atender às particularidades da região durante este período, com ênfase em um patrulhamento focados nos pontos vulneráveis criados pela obra. “Essa abordagem estratégica busca inibir ações criminosas, aumentando a presença ostensiva da polícia em locais e horários previamente identificados como mais suscetíveis a ocorrências”.
Com Andreza Miranda