No Dia do Meio Ambiente, especialista traça impacto sobre mudanças climáticas: ‘não temos o que comemorar’

BH se aproxima de dois meses sem registro de chuva (Amanda Dias/BHAZ)

Abrir sites de notícias e encontrar reportagens sobre ondas de calor, inundações e desastres naturais passou a ser rotineiro nos últimos meses. As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul (re) acenderam o alerta para o resto do país acerca dos efeitos da crise climática.

Especialista ouvido pelo BHAZ alerta para o risco de fenômenos climáticos extremos se repetirem com frequência cada vez maior e que as emissões de gases de efeito estufa não estão sendo reduzidas. No dia 5 de junho, é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente, data estabelecida pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Para o doutor em ecologia Thiago Metzker, no entanto, a data não é sinônimo de comemoração.

“Nós, infelizmente, não temos muito o que comemorar nesse dia 5 de junho. Os números que estão sendo apresentados é que nós não estamos conseguindo reduzir as emissões de gases de efeito estufa“, relata o pesquisador, que participa nesta semana do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) de 2024, sediado em Bonn, na Alemanha.

As previsões do órgão são de que os sintomas da crise climática passam a ser cada vez mais frequentes ao redor do globo. Metzker explicou como fica o cenário em Minas Gerais em entrevista ao BHAZ.

Confira entrevista com especialista sobre mudanças climáticas

BHAZ: Qual o cenário climático atual e as perspectivas para o Brasil?

Thiago Metzker: No Brasil nós temos um problema crítico, porque, apesar de não termos uma matriz industrial forte, temos um nível de desmatamento e queimadas muito alto. Quando temos isso, principalmente na Amazônia, mata atlântica, pantanal, nós incrementamos a atmosfera com gases de efeito estufa.

BHAZ: Consegue traçar um panorama de como está a situação da crise em Minas Gerais?

Thiago Metzker: Em Minas Gerais, nós batemos recordes de aumentos de temperaturas no ano de 2023, principalmente nas cidades do Norte de Minas. Cidades como Jaíba, Verdelândia e Montes Claros tiveram recordes nas temperaturas, principalmente por causa da mudança do uso do solo, temos ali níveis de desmatamento do cerrado e da caatinga muito grandes.

Também tivemos aumento de emissões de gases por outros setores, como o da agropecuária. Quando você junta o aumento de emissões de gases por desmatamento com a agropecuária, nós tivemos uma alteração de microclima local, o que fez com que tivéssemos recordes de aumento de temperatura.

BHAZ: E como está Belo Horizonte?

Thiago Metzker: Já em Belo Horizonte nós temos uma capital que é arborizada, que tem um nível de arborização urbana até bom. Porém, nós temos uma capital que é impermeabilizada, com muito asfalto, e com rios que foram canalizados ao longo do tempo.

E, apesar de Belo Horizonte ter um plano de adaptação climática, ter vários projetos de criação de refúgios climáticos para minimizar os efeitos, é uma capital que ainda assim sofre com os efeitos da mudança climática. É importante lembrar que mudança no clima não é só aumento de temperatura.

Nós vimos na semana passada que Belo Horizonte atingiu uma sensação térmica de menos -4,8°C. É um cenário muito preocupante e o que estamos estudando aqui nos preocupa ainda mais.

BHAZ: Quando a gente fala de mudanças climáticas, o imaginário das pessoas é tomado por uma noção de algo mais distante. No entanto, as enchentes do Rio Grande do Sul acenderam um alerta de que essas consequências estão mais próximas do que a gente imaginava. Qual o cenário?

Thiago Metzker: As mudanças climáticas já são uma realidade há muitos anos, e o IPCC já tem mais de uma década que projeta esses eventos climáticos que vão acontecer cada vez com mais frequência e mais intensidade. A diferença é que agora as pessoas estão percebendo as mudanças por estarem sendo mais divulgadas.

A tendência é que essa frequência aumente ainda mais, porque não estamos conseguindo diminuir a emissão de gases de efeito estufa. Estamos aqui em Bonn, na Alemanha, discutindo justamente isso.

BHAZ: E o que a gente pode fazer para lidar com essa perspectiva?

Thiago Metsker: O que temos que fazer é se preparar cada vez mais. Tem alguns conceitos super importantes: o primeiro é aumentar a resiliência, aumentar o poder de superar esses eventos climáticos extremos. Mas como a gente faz isso? Com projetos de adaptação, deixando a cidade mais adaptada, utilizando soluções baseadas na natureza, substituir estruturas cinzas por estruturas verdes. E também com os processos de mitigação, que se tratam de reduzir as emissões para diminuir os impactos nas cidades.

BHAZ: Pode dar algum exemplo de ações que poderiam ser colocadas em prática em BH?

Thiago Metzker: Nós temos o conceito de cidades esponja, que é um projeto que é caracterizado como projeto de solução baseada na natureza. São jardins drenantes, bacias de detenção que nas chuvas funcionam como amortecimento de cheias e nas secas funcionam como um parque para recreação. Então você tem um conjunto de sistema de drenagem pensado para poder gerir a água da chuva pensando em chuvas muito fortes, em volumes muito elevados, num curto espaço de tempo.

E Belo Horizonte tem um conselho de mudanças climáticas que já desenvolveu uma série de diretrizes e projetos para a cidade. Tem uma de refúgios climáticos, que são áreas arborizadas no meio da cidade que no momento de calor você consegue ter uma área refrescante, mais agradável.

Isabella Guasti[email protected]

Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022 e também de reportagem premiada pelo Sebrae Minas em 2023.

Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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