Homicídio, extorsão e mais: Entenda os indiciamentos no caso Backer

Backer
Polícia concluiu investigações do caso Backer nesta segunda (Amanda dias/BHAZ + Divulgação/Backer)

A Polícia Civil de Minas Gerais terminou o inquérito sobre o caso envolvendo a cervejaria Backer nesta terça-feira (9) e indiciou 11 pessoas por crimes diversos, tais quais homicídio, lesão corporal, falso testemunho e extorsão. Os gestores, como a empresária Paula Lebbos, não vão responder por homicídio, mas serão indiciados (veja todos os detalhes abaixo).

O trabalho de investigação da polícia mineira durou cinco meses e indicou que a Backer assumiu o risco de contaminar os consumidores ao ignorar os procedimentos indicados pela própria linha de fabricação da cervejaria. Segundo o trabalho dos investigadores, dois vazamentos fizeram com que os produtos tóxicos se misturassem às cervejas, provocando a intoxicação de 29 vítimas, sendo sete mortes e 22 sobreviventes (leia mais aqui).

Indiciados

As investigações foram divididas em dois grupos: produção e pós-produção. Ou seja, aqueles que participavam do processo de fabricação da cerveja e o que aconteceu após a divulgação dos fatos.

Confira os indiciados:

  • Um funcionário da empresa que fornecia substâncias para a Backer indiciado por falso testemunho e extorsão. Ele exigiu que diretores da empresa de Contagem o pagasse para que ele não revelasse vídeos que mostravam uma suposta sabotagem, que não foi comprovada.
  • Um engenheiro do corpo de manutenção da cervejaria, que se omitiu ou não agiu ao descontrolar a reposição das substâncias tóxicas. Ele responderá por homicídio culposo, lesão corporal culposa e contaminação de produto alimentício culposa.
  • Seis responsáveis técnicos da produção, que deveriam garantir a qualidade dos produtos foram indiciadas por homicídio culposo, lesão corporal culposa e contaminação alimentícia dolosa, já que usavam a substância errada e descontrolada.
  • Três gestores da empresa, dentre eles a empresária Paula Lebbos, responderão pelo crime contra o consumidor por não cumprir o recall das cervejas contaminadas e não ter avisado à população sobre o risco da bebida. Eles mantiveram os produtos em estoque e mantiveram a venda. Eles responderão pelos dois crimes dolosamente.

Procurada, a Backer diz, por nota, que “reafirma que irá honrar com todas as suas responsabilidades junto à Justiça, às vítimas e aos consumidores”. “Sobre o inquérito policial, tão logo os advogados analisarem o relatório, a empresa se posicionará publicamente”, conclui.

Mortes poderiam ter sido evitadas

Os equipamentos usados na linha de produção da Backer indicavam o uso de etanol e propoetanol, segundo a Polícia Civil, mas a empresa insistia no uso das substâncias tóxicas. O dietilenoglicol e o monoetilenoglicol eram colocados em equipamentos de refrigeração utilizados no processo cervejeiro.

“Esses dois equipamentos indicam que só podem usar álcool etílico e propoetilenoglicol, que são substância já utilizada nas indústrias alimentícias e não são tóxicos. Esses líquidos, mesmo vazando, não causariam efeito danoso nas vítimas. Se os manuais indicados pelos fabricantes dos equipamentos fossem seguidos, nós não estaríamos aqui, com 29 vítimas. No máximo, haveria uma diferença de sabor ou aumento de teor alcoólico das cervejas”, afirmou o delegado Flávio Grossi.

Bebida fatal

De acordo com o delegado da polícia ténico-científica da Polícia Civil, Thales Bittencourt, em um dos lotes da cerveja, os investigadores encontram uma concentração suficiente para matar um adulto com apenas uma garrafa.

“No lote 1348 da cerveja, foi encontrado com uma taxa constante de mono de até sete gramas por litro. A dose tóxica letal pode ser de um a 10 gramas para um indivíduo de 70 quilos, ou seja, uma garrafa de cerveja poderia ser suficiente para matar um indivíduo”, explicou.

“Lembrando que, de acordo com a literatura, isso depende de acordo com organismo. Uma pessoa pode ingerir e ser letal, e outra não ter sintoma algum. O consumo de etanol que, como já mostramos, serve de antídoto também pode influenciar nisso”, complementou.

Histórico

No dia 5 de janeiro deste ano, a Polícia Civil mineira começou a investigação de informações preliminares sobre pessoas que foram internadas após consumir cervejas da marca Belorizontina, da Backer. A cervejaria, por sua vez, condenou a disseminação do que classificou como falsas e descartou qualquer possibilidade de contaminação.

No dia 11 de janeiro, peritos do Instituto de Criminalística da Polícia Civil levaram amostras de diversos lotes de cerveja para análise da corporação do Distrito Federal. As garrafas, tanta as cedidas pelos familiares das vítimas quanto as recolhidas na fábrica, deram a certeza que a contaminação ocorreu dentro da fábrica, segundo a PC mineira.

No dia 12 de janeiro, foi instituída uma força-tarefa com a Polícia Civil; a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais; o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; além do Ministério Público mineiro. No dia seguinte, o ministério determinou que a cervejaria recolhesse todas as marcas do mercado e suspendesse as vendas imediatamente.

Entre os dias 17 e 29 de janeiro, 26 pessoas foram ouvidas pela Polícia Civil do Estado mineiro. Ao todo, mais de 70 pessoas foram ouvidas, entre vítimas e investigados para a polícia compreender como foi a atuação de cada investigado.

O que é o dietilenoglicol

O dietilenoglicol é uma substância anticongelante bastante usada na indústria. A ingestão, no entanto, pode provocar intoxicação com sintomas como insuficiência renal e problemas neurológicos. Por isso, no início da polêmica relacionada à Backer,  o conjunto de sintomas causado pela substância foi nomeado como “síndrome nefroneural” pela SES-MG (Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais).

De acordo com o Ministério da Saúde, os sintomas sentidos pelos pacientes, que tiveram contato com a substância, são gastrointestinais (como náusea, vômito e dor abdominal), associados a uma insuficiência renal aguda grave que pode evoluir em até três dias, seguidos por alterações neurológicas (como paralisia facial, vista borrada, cegueira total ou parcial, entre outros).

Pessoas que beberam a cerveja Belorizontina, no fim do ano passado, tiveram vários desses sintomas. Há paciente que perdeu a visão e há várias vítimas que ainda não conseguem sequer andar. A maior parte delas só sobrevive por meio de diálise.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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