Saiba o que é ‘MTG’, funk de BH que bomba nas redes e que está em novo álbum de Anitta

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Funk MTG, que embraza belo-horizontinos, está no álbum de Anitta (Reprodução/@djjjoaodainestan/Instagram + @Anitta/X)

Anitta lançou, na última semana, seu aguardado álbum Funk Generation. O projeto homenageia, com variedade de ritmo e idioma, o gênero que catapultou a artista. Dentre as vertentes apresentadas pela cantora está o Funk MTG, subgênero bastante popular em BH que ganhou os streamings nos últimos anos e transformou a vida de artistas da periferia.

O novo álbum de Anitta mistura diversos jeitos de se fazer funk, com produção assinada por nomes como DJ Gabriel do Borel e Tropkillaz, que estão à frente de inúmeros hits do gênero. Entre as várias formas de funk, o MTG aparece na faixa “Sabana”. Em entrevista coletiva, a própria artista descreveu a música como “um estilo de funk bem dark, mais obscuro”.

Considerado como um funk mais “sujo”, a sonoridade e as letras explícitas são o que caracterizam boa parte das MTGs. No Spotify, há inúmeras playlists desse tipo de funk, em que é possível identificar que as batidas são mais intensas do que o funk carioca, por exemplo.

O que é Funk MTG?

Mas, afinal, o que é Funk MTG? Para começar, “MTG” é a abreviação para “montagem”. As músicas desse gênero são montagens feitas por DJs com partes de músicas antigas ou recentes, que são misturadas e colocadas em beats específicos. Segue um exemplo:

“A gente vai misturando pontos de voz junto com os instrumentais. Pode ser piano, um banjo, um violino… Se quisermos fazer montagem sobre ex, pegamos um conjunto de vozes falando de ex, entendeu?”, explica DJ João da Inestan ao BHAZ.

É um trabalho minucioso. “Se nós quisermos falar sobre traição, a gente vai pegar um tanto de vozes falando de traição. Vamos pesquisando e montando esse conjunto de vozes para falar só sobre uma coisa”, completa.

“A produção de BH é o famoso 130 BPM [Batidas Por Minuto] raiz, é samplear muita coisa e, principalmente, juntar vários elementos, vozes de várias outras músicas numa só”, explica o empresário artístico de funk em BH, Thiago Monteiro.

Origens do Funk MTG

Embora o funk MTG tenha se popularizado nos streamings nos últimos anos (mais especificamente, durante a pandemia, com a ascensão do TikTok), o subgênero é tão antigo quanto os demais estilos de funk produzidos em Belo Horizonte.

DJ João da Inestan, que é um dos destaques do funk MTG na capital mineira, conta que começou fazer montagens há 10 anos. “A gente fazia só por hobby mesmo, por curtição, pra gente colocar no pen drive ou no CD”, relembra.

DJ João da Inestan é um dos destaques do funk MTG em BH
(Reprodução/Instagram)

“Eu, particularmente, distribuía os pen drives e CDs em bailes para poder divulgar meu som”, completa. Para o artista, quem criou o funk MTG em BH foram ele, o PH da Serra, o TG da Inestan, Anderson do Paraíso e Lucas do Taquaril.

Já Thiago Monteiro acredita que o estilo de música começou em Belo Horizonte com MC Delano – aquele que ficou famoso com “ela quica, ela para, rebola, ela trava”.

“Em 2013, 2012, por aí, já tinha bastante movimento dos bailes, já tinham bastante DJs produzindo as MTGs”. A fase de montagens do MC Delano teria sido no início da carreira. “Depois ele foi migrando para esse lado mais mercado”.

Thiago Monteiro é empresário de funk em Belo Horizonte
(Reprodução/Instagram)

E não foi só o MC Delano que tornou seus funks mais mercadológicos. Com o boom das MTGs nas redes sociais, “os meninos começaram a suavizar as MTGs”, afirma o empresário.

“Hoje o beat de BH é algo que a gente chama de embrazado. É algo que vai tocar na festa e qualquer pessoa vai se movimentar, não vai ter jeito”, declara. “Está muito mais comercial”, avalia DJ João da Inestan.

Funk MTG transforma realidades

A popularização das MTGs também trouxe oportunidades de investimento, além de ter mudado a vida financeira de muitos artistas que trabalham com o subgênero. DJ WS da Igrejinha, Gordão do PC e o próprio DJ João da Inestan são exemplos de jovens que hoje faturam uma boa quantia com esse tipo de música.

“Com o dinheiro que ganhei do funk, hoje, graças a Deus, eu posso ajudar a minha família. Conquistei várias coisas e estou conquistando muito mais. Tenho um apartamento próprio, dois carros, uma moto e viagens internacionais pelo funk MTG de BH”.

“No ano de 2021, a maioria dos hits dos funks de BH eu tive a oportunidade de distribuir. Depois desse meu primeiro contato, outros empresários do mercado começaram a entender que dá para viver apenas de funk MTG”, relata Thiago.

Mulheres no funk MTG

Antes mesmo de Anitta pensar em gravar um funk MTG pro álbum Funk Generation, uma mulher em Belo Horizonte já estava abrindo esses caminhos. A MC Morena, conhecida no meio como “rainha de BH”, foi a primeira mulher a gravar a capellas para as montagens.

“Eu comecei mesmo no funk ali em meados de 2018. Comecei a gravar para mandar para alguns DJs, cheguei a fazer um pack de vozes no Soundcloud. Nessa mesma semana que eu gravei a gente soltou e viralizou, foi surreal”, narra a funkeira.

MC Morena é presença garantida do funk MTG
(Reprodução/Instagram)

A MC conta que os DJs produziram muitas montagens com as vozes que ela gravou. “Eu acho que fui a primeira a não ter essa vergonha de cantar p*taria, que eu acho que é o que marca também o funk MTG”, avalia.

Assim como Anitta em sua carreira no funk, MC Morena também foi alvo de críticas – e de pessoas bem próximas. “Só que quem mais importava para mim me apoiava muito. Sempre idealizei que o que eu sou no palco eu não sou na vida”.

“Estou em quase todas as músicas MTGs de BH, com certeza você já ouviu alguma música comigo”, assegura MC Morena. Confira um funk com a voz da artista:

Todos querem funk MTG!

Com a consolidação do funk MTG, é natural que grandes artistas do gênero (e até de outros) comecem a aderir ao estilo. DJ João da Inestan conta que cantores de diversos lugares do Brasil, como João Gomes e MC Ryan Sp, enviam a capellas para serem inseridas em montagens.

Além da circulação nacional, o funk MTG fez uma aparição importante na indústria internacional da música por meio do álbum de Anitta. Questionado se a inserção do subgênero no disco da artista seria uma forma de limpar o MTG, Thiago Monteiro diz que não.

“Acaba que não deixa de ser uma montagem né? Está misturando os efeitos, os estilos. A proposta do MTG é exatamente essa, ser livre. A gente tem um exemplo que dominou o Brasil bem antes, que foi o Kevin o Chris com ‘Faz um Vuk Vuk'”.

No final das contas, a ascensão da cultura underground é o que pequenos e até marginalizados artistas desejam. O funk, por si só, sempre foi abraçado pela parcela da sociedade que acredita na liberdade dos corpos e na denúncia de mazelas.

Com o lançamento do Funk Generation, assim como Anitta, ficamos na expectativa de que esse gênero musical seja respeitado como qualquer outro. A cultura undreground é viva e necessita ser representada e difundida.

Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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