Antes da pandemia de Covid-19, apenas 5,8% dos profissionais do setor musical entrevistados pela UFMG recebiam mensalmente o equivalente a um salário mínimo com a música. Com os impactos da pandemia, o número aumentou significativamente: quase a metade dos entrevistados — 43,9% — viu sua renda despencar a esse patamar.
Os dados são resultado de pesquisa desenvolvida pelo Escutas (Grupo de Pesquisa em Sonoridades, Comunicação, Textualidades e Sociabilidade) do departamento de Comunicação Social da UFMG. Os organizadores entrevistaram 171 profissionais da música (cantores, compositores, instrumentistas, técnicos de som, DJs, produtores executivos, luthiers, entre outros), entre 10 de agosto e 06 de outubro de 2020.
Do total dos entrevistados, 145 — equivalente a 84,8% — afirmaram que vivem da sua própria renda com música. Dentre eles, 77 disseram que possuem um ou mais dependentes dessa renda. Os resultados já obtidos pela pesquisa foram publicados em uma edição especial da revista Frontiers in Sociology, e as informações também estão disponíveis no YouTube do Escutas.
Precarização no setor musical
A pesquisa aponta que o impacto da pandemia no setor musical é ainda maior em grupos socialmente mais vulneráveis. A adaptação aos ambientes virtuais também não é suficiente para garantir a monetização para a grande maioria dos músicos. Em geral, os dados indicam uma precarização no setor musical.
Segundo a pesquisa, existe um cenário com alta ocorrência da informalidade e, cada vez mais, os profissionais da música estão abandonando a função ou trocando-a por outra atividade não-musical, como dirigir carros de aplicativo ou vender pães. O estudo também reforça o papel crucial dos bares, restaurantes e eventos para a cadeia produtiva do setor.
Os dados também revelam que a precariedade varia conforme gênero, sexualidade, raça e etnia, geração e classe. Por exemplo, dentre os profissionais negros entrevistados — que representam 37,4% do total de respondentes da pesquisa — metade ficou na faixa de um salário mínimo recebido mensalmente, tanto antes como depois da pandemia.
A pesquisa ainda contará com uma próxima etapa, em que pretende investigar questões específicas que emergiram nas respostas do questionário da primeira fase: o impacto das leis de incentivo à cultura e o desafio da barreira tecnológica do virtual, por exemplo. Nesta segunda fase, os pesquisadores retornarão aos respondentes do questionário para fazer entrevistas de profundidade individuais e em grupos focais.
Com UFMG