A Serra do Curral deve ser o primeiro bem brasileiro em lista de alerta global de patrimônios em risco. O comitê brasileiro do Icomos (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios) apresentou, nessa terça-feira (6), estudos que vão subsidiar o envio do “Heritage Alert” à comunidade internacional.
O Icomos é uma organização associada à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Em reunião realizada ontem, os responsáveis pelo pedido de emissão do alerta apresentaram a fundamentação para que a Serra do Curral seja considerada um patrimônio em risco.
O vice-presidente do Icomos nas Américas, Leonardo Barci Castriota, explicou que, em abril, o núcleo de Minas Gerais da organização lançou ações de mediação antes de solicitar ao Icomos internacional o lançamento do Heritage Alert em relação à serra.
“Fizemos recomendações, alguns passos positivos foram tomados, e a comissão entendeu que poderia suspender esse pedido de alerta. Mas, de lá para cá, houve vários desdobramentos que levaram a direção do Icomos a efetivar esse alerta global”, disse.
Protelação do tombamento
Flávio Carsalade, presidente do Icomos Brasil, reforçou que as tentativas de conciliação antes do lançamento do alerta já se esgotaram: “já se passaram quase seis meses do prazo em que seria feita a reunião de tombamento da Serra do Curral, e nada foi feito”.
“Nos preocupa muito esse tempo de protelação dessa ação. Como não foi feito até hoje, o que entendemos é que a serra está muito exposta, à própria mineração e a algumas ações clandestinas. Entendemos que o lançamento do alerta patrimonial pode servir de impulsionamento para que sirva de ação urgente e prioritária”, completou.
Estudos sustentam alerta
O professor Rafael Winter Ribeiro, conselheiro regional do Icomos Brasil no Sudeste, apresentou durante a reunião os estudos que sustentam o envio do alerta à comunidade global.
Um dos argumentos é que parte das cavas que podem ser exploradas pela mineração na Serra do Curral está dentro da área de entorno do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que fica muito próxima à região já tombada do Pico Belo Horizonte.
“Avaliamos os impactos atuais e toda a discussão da mineração em torno da Serra do Curral. Nos causa estranheza o silêncio do IPHAN em relação a isso”, afirmou.
‘Vergonha para Minas’
Leonardo Castriota também explicou durante a reunião que, com o relatório já aprovado pelo Icomos Brasil, o próximo passo é traduzir o documento para o inglês, francês e espanhol, para que ele seja encaminhado ao Icomos internacional.
“Até o inicio do ano [de 2023], isso vai ser referendado por Paris [onde fica o Secretariado Internacional da organização]. A partir disso, vão ser emitidas cartas internacionais ao presidente da República, ao governador, prefeitos, empresas, todos os órgãos envolvidos”, afirmou.
O alerta também será enviado para a Unesco, e o plano é que ele também seja difundido na imprensa internacional.
“Infelizmente, é uma notícia que não queríamos dar. Isso vai ser uma vergonha para Minas Gerais, é a primeira vez que um bem cultural brasileiro entra na lista do ‘Heritage Alert’. Infelizmente, não nos sobrou outra alternativa a não ser fazer essa denúncia”, disse Castriota.