A deputada estadual Andréia de Jesus (PT) denuncia ter recebido mais uma ameaça, desta vez em forma de bilhete enviado ao próprio gabinete dela na ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais). O agressor enviou uma foto de um macaco para a parlamentar, com o desenho de uma suástica nazista e ofensas racistas.
“Macaca de [Ribeirão das] Neves”, “defensora de vagabundo”, “amiga de bandido”, diz a carta que chegou à casa legislativa nesta sexta-feira (8). O remetente se identifica como Paulo Wurth Siqueira, mas apurações internas da ALMG trabalharão para encontrar o autor do ataque.
Denúncia
Em coletiva de imprensa concedida nesta tarde, a deputada informa que já registrou um boletim de ocorrência interno para que um inquérito seja instaurado na própria Assembleia, pela Polícia Legislativa. A equipe da parlamentar também vai registrar a ocorrência junto à Polícia Civil.
Agora, a casa legislativa tem competência para investigar o caso, e vai agir para obter imagens de câmeras de segurança, descobrir onde a carta foi postada, entre outras informações. Já a denúncia na Polícia Civil vai se juntar aos 27 inquéritos que investigam crimes contra a deputada e já estão em andamento na corporação.
“Temos sofrido muitas ameaças, que se intensificaram quando assumi a Comissão de Direitos Humanos, tanto por redes sociais quanto por telefone, e nessa correspondência. Hoje, recebemos mais uma ligação com ameaça de morte”, disse Andréia de Jesus.
Depois de denunciar o bilhete em entrevista à TV Globo, ainda hoje, o gabinete da deputada recebeu uma ligação de um homem que também se identificava como Paulo. De acordo com uma assessora parlamentar, ele fez ameaças de morte tanto à deputada quanto à equipe dela.
Escolta de deputada terá reforço
A deputada seguia sem escolta desde março deste ano, por decisão da Polícia Militar, e buscava a retomada da proteção. Após o episódio, a ALMG informou que a equipe que faz a segurança dela receberá reforço (veja na íntegra abaixo).
“Nunca paramos de pedir essa proteção ao estado. Percebemos uma sinalização da PM de ceder mais um oficial, mas ainda não tivemos resposta oficial. Essas ameaças são uma tentativa de inibir nosso trabalho, por eu ser uma mulher, negra”, defende.
As ameaças também se intensificaram desde que Andréia de Jesus pediu uma investigação sobre a operação policial em Varginha, no Sul de Minas contra integrantes do “novo cangaço“, que matou 26 pessoas (relembre aqui).
“São 3 anos e 3 meses sofrendo intimidações, desde o dia da posse. O estado tem que se preparar para isso. Existe uma motivação racial por trás dos ataques, é indiscutível. Já são 3,5 mil mensagens de ameaças a partir do momento em que pedimos a investigação sobre o caso de Varginha”, diz a deputada.
Apesar dos riscos, Andréia garante que não vai recuar. “O papel das mulheres na política ainda é questionado, há uma tentativa de impedir essa participação, e precisamos saber de onde vem isso. Que a minha ação sirva de inspiração para outras mulheres”.
Nota da ALMG na íntegra
“Informamos que, a partir desta segunda-feira (11/07), haverá reforço na equipe policial que faz a segurança da deputada Andreia de Jesus (PT). Nesta sexta-feira (08/07), tão logo tomou ciência das graves ameaças sofridas pela parlamentar, o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado Agostinho Patrus (PSD), realizou tratativas junto à Polícia Militar de Minas Gerais no sentido de reforçar a proteção especial cedida à deputada.
A escolta policial visa garantir a segurança da parlamentar em suas atividades diárias. O Poder Legislativo mineiro reafirma seu compromisso em assegurar o pleno exercício das funções de todos os membros da ALMG, bem como reconhece a importância do trabalho da deputada e de todos os demais parlamentares. A Assembleia Legislativa manifesta profundo repúdio às ameaças e ofensas racistas direcionadas à deputada Andréia de Jesus”.
