É bem provável que você tenha recebido um áudio, por meio do WhatsApp, informando o início de uma nova greve dos caminhoneiros a partir da próxima terça-feira (7), no feriado da Independência. A gravação, com mais de três minutos, tem deixado algumas pessoas preocupadas. O motivo? A informação é de que o movimento será por tempo indeterminado e que poderemos ter, até mesmo, a derrubada das redes sociais.
“Ficou definido que no dia 7 de setembro, às 5h, os caminhoneiros vão parar. Todos os caminhoneiros do Brasil inteiro. Só vai passar carro de passeio, cargas perecíveis e ônibus. Passadas 72 horas, quer dizer, dia 10, não passa nada. Nem ônibus, nem carro. Só ambulância, Corpo de Bombeiros e polícia”, diz a mulher, que não se identifica, em um dos trechos da gravação.
A nova greve, segundo informa o áudio, tem o objetivo de “colocar o Brasil em dia”. Também não é descartada a possibilidade de faltar alimentos e, por isso, a autora recomenda que as pessoas estoquem mantimentos. “Vai faltar tudo e o que tiver vai ser muito caro”, alerta.
‘Queda das redes’
Se não bastasse tudo o que é prometido, o áudio ainda diz que redes sociais poderão ser bloqueadas. “O que tiverem de resolver por redes sociais, resolvam logo. Porque perto de 7 de setembro nós estamos correndo um grave risco de todas as redes sociais serem bloqueadas para evitar a comunicação entre os movimentos de direita, entre os organizadores do movimento a nível Brasil”.
Na pauta da reivindicação está o voto impresso, que já foi rejeitado pela Câmara dos Deputados. “Não sabemos quanto tempo vai durar a paralisação. Vai ser até resolver o problema do STF, do voto impresso, essa coisa toda… Se não der certo, quem tem passaporte pode ir embora do Brasil, pois aqui vai virar comunismo. Uma Argentina da vida, Venezuela”.
Áudio falso
O BHAZ conversou com Ariovaldo de Almeida Silva Júnior, um dos organizadores do movimento dos caminhoneiros em 2018. Ele desmentiu a possibilidade de uma nova greve ocorrer e afirmou que o áudio é “absurdo e criminoso”.
“Não vai ter greve. O que está havendo é 100% especulação. Esses caras ficam inflamando e desestabilizando e provocando o medo no povo. O movimento dos caminhoneiros não tem nada haver com o ato que será realizado pelo agronegócio. Nenhum caminhoneiro vai parar na rodovia e nem fazer greve”.
A informação passada por Ariovaldo, que também é conhecido como Júnior do Sindicam Ourinhos, é confirmada pelo caminhoneiro Claudemir Travain. “Não está tendo comentário de greve. Estive ontem no Mato Grosso do Sul e ninguém falando nada. Os áudios circulam pelo WhatsApp, mas sem força alguma”, comentou.
A categoria dos caminhoneiros não pretende cruzar os braços, pois, “greve custa dinheiro”, conforme diz Ariovaldo. “O caminhão parado custa R$ 20 mil. Ai de quem querer parar caminhão e querer brigar com caminhoneiro. Precisamos trabalhar, pois estamos acumulando prejuízos desde o começo da pandemia”. Portanto, o áudio que alerta para o início de uma nova greve de caminhoneiros no Brasil é FARSA.
Paralisação dos tanqueiros
Um dia após a publicação desta reportagem, nesta sexta-feira (3), o Sindtanque-MG (Sindicato dos Transportadores de Combustíveis e Derivados de Petróleo do Estado de Minas Gerais) anunciou que a categoria vai aderir a uma paralisação no dia 7 de setembro.
O sindicato, no entanto, não representa a categoria dos caminhoneiros. Isso significa que a distribuição dos serviços e produtos que dependem dos caminhoneiros não sofrerão nenhuma alteração. O áudio que viralizou citando a possibilidade de uma greve desses trabalhadores, portanto, continua sendo FARSA.
A paralisação dos tanqueiros é referente à reivindicação pela redução do valor do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviço) sobre o diesel. O sindicato já havia sinalizado a possibilidade de uma paralisação na última semana e informou hoje que apoia as manifestações previstas para o dia 7 de setembro, “desde que sejam ordeiras, com muita responsabilidade e não-partidárias”.
Em fevereiro de 2021, uma paralisação dos tanqueiros foi suspensa diante da promessa das reivindicações serem atendidas. “O Governo de Minas não acenou com nenhum benefício, nenhuma melhoria para a categoria. O compromisso de retornar a alíquota do ICMS do diesel para 12%, ficou só na promessa”, protesta o presidente do Sindtanque-MG, Irani Gomes.
À época, o governador Romeu Zema (Novo) prometeu dialogar e criar um grupo para solucionar o impasse. O recuo do mandatário veio após um dia de paralisação que lotou as filas dos postos de combustível do estado.
“Preocupado com a situação que levou os transportadores de combustíveis a promover uma manifestação e com a corrida da população aos postos de combustível, pedi a equipe que se reunisse com os envolvidos no movimento e reafirmasse nossa disposição para o diálogo”, anunciou Zema após a paralisação. Mas, segundo o presidente do Sindtanque-MG, nenhuma mudança foi concretizada desde então.