PM vai à casa de representante de blocos e ameaça usar armas em caso de protestos; corporação fala em visita ‘amistosa’

blocos denunciam intimidação da PMMG
Músico dos blocos Havayanas Usadas e Raga Mofe conta que recebeu a visita da PM em casa e foi avisado que não deveria “insuflar as massas” (Henrique Coelho/BHAZ + Thomaz Albano/BHAZ)

Um representante de dois blocos de Carnaval de Belo Horizonte denuncia ter recebido uma visita intimidadora da Polícia Militar de Minas Gerais. Segundo o músico Heleno Augusto, os policiais foram até a sua casa e avisaram que ele não poderia “insuflar as massas” e deveria passar mensagens positivas sobre a corporação.

O representante dos blocos Raga Mofe e Havayanas Usadas relata que foi avisado que se proferisse palavras de ordem durante a apresentação de algum cortejo, poderia passar por alguma intervenção da PM. “Eles falaram que o efetivo estaria armado e poderia usar as armas para fazer uma dispersão forçada do bloco”, detalha ao BHAZ.

O músico conta que foi convidado para uma reunião com os policiais na última quarta-feira (19). Porém, como Heleno não tinha disponibilidade, a PM agendou uma visita em sua casa para o dia seguinte, na quinta-feira.

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Segundo o músico, na manhã de quinta chegaram em sua casa alguns policiais em uma viatura do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam). “Cria na gente uma tensão desnecessária, é uma intimidação que nos deixa sem saber se vai dar problema. Parece uma ação direcionada”, comenta.

Após a conversa, os próprios policiais registraram um boletim de ocorrência e fizeram algumas fotografias do carnavalesco. A PM enviou para ele o registro da conversa, porém Heleno considera que o relato dos policias não corresponde ao teor da conversa que tiveram.

Tensões com a polícia

A denúncia de intimidação e tom ameaçador é mais uma escalada na tensão entre a Polícia Militar de Minas Gerais e o Carnaval de Belo Horizonte. Desde o último domingo, autoridades policiais têm feito exigências que inviabilizam o desfile de dezenas de blocos da cidade (entenda aqui).

A Liga Blocada, que reúne seis clássicos blocos de Belo Horizonte, se pronunciou sobre as intimidações denunciadas por Heleno. Por causa da tensão com a PM, a Liga reforça o temor do que pode acontecer durante os cortejos, mas ressalta a importância do Carnaval para a manutenção da democracia.

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“Estamos diante de uma clara ameaça ao Estado Democrático de Direito e tememos o que pode acontecer nos desfiles […] porque não abriremos mão dos nossos direitos assegurados no art. 5º da Constituição Federal, de liberdade de expressão e de reunião em locais abertos ao público, independentemente de autorização”, declarou por meio de nota.

Para Heleno, o sentimento que ficou foi de “liberdade cerceada”. “Cria um clima de tensão no nosso Carnaval, que nunca teve problemas, é só alegria. Cantei 4 anos no Baianas Ozadas, mais de 4 no Havayanas Usadas e no Raga Mofe há quase 10 anos”, lamenta.

Posicionamento da PM

Apesar da denúncia dos blocos, a Polícia Militar de Minas Gerais nega que tenha intimidado ou repreendido qualquer representante. “Os contatos ocorreram em tom amistoso e sem qualquer intercorrência. Inclusive, para todas as visitas foram geradas Boletins de Ocorrências no sentido de resguardar a intenção preventiva e comunitária desses contatos”, garantiu, por meio de nota à imprensa.

A corporação garante que as conversas com os carnavalescos foi somente de “cunho preventivo”. “O objetivo das visitas foi ampliar a sensação de segurança no Carnaval e solicitar o apoio dos blocos para a divulgação de dicas preventivas durante suas apresentações”, declarou.

Nota da PMMG na íntegra:

“A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) esclarece que foram realizadas visitas comunitárias com representantes de blocos nas áreas de alguns Batalhões com cunho preventivo. O objetivo das visitas foi ampliar a sensação de segurança no Carnaval e solicitar o apoio dos blocos para a divulgação de dicas preventivas durante suas apresentações. Também foram repassadas orientações para que se evitassem estímulos à violência e ocorrências de crimes durante o Carnaval.

A PMMG esclarece que os contatos com os blocos não tiveram cunho intimidativo e repressivo e ocorreram em tom amistoso e sem qualquer intercorrência. Inclusive, para todas as visitas foram geradas Boletins de Ocorrências no sentido de resguardar a intenção preventiva e comunitária desses contatos.

A Polícia Militar ressalta ainda que tem contado com o apoio de vários blocos para difundir as dicas de segurança e fazer um Carnaval de Paz.

Vale destacar que a redução dos crimes violentos neste Carnaval na capital já se apresenta bastante expressiva, na casa de 40% e que essa redução reforça que as ações da Polícia Militar de Minas Gerais, em conjunto com os blocos e os demais órgãos envolvidos, fazem do Carnaval de Belo Horizonte o mais seguro para os foliões”.

Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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