Debate na Band tem Lula apagado, descontrole de Bolsonaro e mulheres em destaque

Simone Tebet se destacou no primeiro debate presidencial no embate com Bolsonaro (Reprodução)

O primeiro debate dos presidenciáveis, ocorrido no último domingo (28) na Band, foi palco de uma reviravolta que parecia improvável. Com Lula (PT) apagado e Jair Bolsonaro (PL) novamente se descontrolando, o destaque do debate acabou ficando com as candidatas Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil).

Desconhecidas da maior parte dos eleitores, as candidatas se aproveitaram de um ataque de Bolsonaro contra a jornalista Vera Magalhães para colocarem os direitos das mulheres no centro da discussão e denunciar a conduta do presidente.

Ataques ao STF e embate entre Lula x Bolsonaro

No primeiro bloco, os candidatos responderam perguntas de jornalistas sobre o plano de governo e, em seguida, fizeram perguntas entre eles. Os primeiros a serem perguntados foram Felipe D’Avila (Novo) e Soraya Thronicke (UB). A pergunta foi sobre programas sociais, mas ambos, desconhecidos que são da maior parte do eleitorado, aproveitaram para se apresentar.

Ao ser questionado sobre como baixar a tensão no país, Bolsonaro voltou a atacar o Supremo Tribunal Federal e defendeu os empresários alvos de uma operação da Polícia Federal por defenderam um golpe caso ele não ganhe a eleição.

Comentando a resposta do candidato à reeleição, Simone Tebet desferiu o seu primeiro ataque a Bolsonaro.

“Precisamos mudar o presidente da República. Temos um presidente que ameaça a democracia, não respeita a imprensa livre e não respeita o congresso”, disse ela. 

Em seguida, Lula e Ciro Gomes (PDT) responderam sobre a educação. Ambos relembraram medidas tomadas em seus mandatos, Lula como presidente, e Ciro como governador do Ceará. 

A rodada de embates foi aberta por Bolsonaro, que escolheu Lula como alvo. O presidente questionou Lula sobre a corrupção na Petrobras. 

Sem responder ao questionamento, Lula resolveu adotar estratégia semelhante à de sua entrevista ao Jornal Nacional, mas sem o mesmo sucesso. O ex-presidente citou diversas iniciativas do seu governo que ampliaram a transparência e fortaleceram o combate à corrupção, mas esquivou-se de falar sobre a Petrobras. Bolsonaro classificou o governo Lula como o mais corrupto da história, e o petista replicou pontuando sobre investimentos de seu governo em programas sociais e educação. 

Em seguida, Ciro questionou Bolsonaro sobre a fome no país. O presidente disse, na última sexta (26) em entrevista ao programa Pânico que “não se vê gente pedindo pão na porta da padaria”, ao tentar negar os números sobre a fome em seu governo. Como resposta, o candidato do PL voltou a criticar o isolamento durante a pandemia e não reconheceu o aumento da fome no Brasil. 

Já Lula questionou D’Avila sobre o tema sustentabilidade. Por fim, Simone Tebet perguntou para Soraya Thronicke sobre a educação.

Presidente ataca jornalista e senadoras respondem: ‘Não tenho medo de você’

No segundo bloco, os presidenciáveis responderam a perguntas de jornalistas. Um dos candidatos respondia ao questionamento, seguido pelo comentário de outro.

Bolsonaro foi o primeiro escolhido. O presidente foi questionado de sobre qual seria a fonte da verba para manter o valor do Auxílio Brasil em R$ 600,00. Lula foi escolhido para comentar. Nenhum dos dois conseguiu responder à pergunta, mas aproveitaram para, novamente, trocar farpas.

“Para o PT quanto mais pobre estiver o povo, melhor para eles fazerem política em cima disso. Como conseguir recurso? Não roubando, não metendo a mão no dinheiro do povo”, afirmou Bolsonaro. “Há uma mentira no ar”, retrucou Lula, afirmando que o governo não previu a continuidade do auxílio na lei orçamentária.

Em seguida, foi a vez de Ciro responder a uma pergunta da jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, com o comentário de Bolsonaro. A pergunta foi sobre a queda da cobertura vacinal no pós-pandemia e sobre a possível responsabilidade de Bolsonaro sobre o quadro. Após a resposta de Ciro, o presidente, esquivando-se de responder, atacou a jornalista.

“Vera, não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Deve ter alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido em um debate. Uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, disse Bolsonaro. 

Simone Tebet, que estava ao lado, respondeu: “o que é isso, presidente?” E foi interrompida com por Bolsonaro com um “não pedi a sua opinião”.

Lula foi questionado sobre os rompimentos na esquerda e das críticas já feitas a Ciro Gomes. O petista afirmou “reverenciar” o candidato do PDT e acrescentou: “Ele tem o coração mais mole do que a língua”. 

Ciro, no entanto, respondeu com ataques a Lula. Ele voltou a afirmar que o petista foi responsável pela ascensão de Jair Bolsonaro (PL), e que “é encantador de serpentes”.

“Não acho que Bolsonaro desceu de Marte. Bolsonaro foi um protesto absolutamente reconhecido contra a devastadora crise econômica que o Lula e o PT produziram”, declarou o pedetista.

Em seguida, foi a vez de Simone Tebet responder sobre feminismo, com comentário de Soraya Thronicke. A candidata citou números da violência contra as mulheres no Brasil e prosseguiu criticando a postura de Bolsonaro.

“Nós temos que colocar na cadeia quem agride a mulher brasileira, quem agride uma criança, quem agride um adolescente. Temos que dar exemplo. Exemplo que, lamentavelmente, o presidente não dá quando desrespeita as mulheres, quando fala das jornalistas, quando agride, ataca e conta mentiras como ele acabou de fazer. Eu quero dizer que não tenho medo, eu quero dizer que fake news e robôs do seu governo não me amedrontam”, disse a candidata.

Soraya Thronicke foi questionada sobre religião e afirmou que, caso eleita, manterá respeito ao estado laico. Mas a maior parte do tempo foi gasto se dirigindo a Bolsonaro, a respeito do ataque que desferiu contra Vera Magalhães. “Quando eu vejo o que aconteceu agora, contra a Vera, eu fico extremamente chateada. Quando homens são tchutchucas com outros homens e com mulheres são tigrão, eu fico extremamente incomodada. Eu fico brava”, afirmou. 

Direitos das mulheres

O terceiro e último bloco, que também teve perguntas entre os candidatos e feitas por jornalistas, foi marcado, principalmente, por questionamentos sobre os direitos das mulheres. 

Simone Tebet começou a série de embates, ao perguntar para Bolsonaro qual o motivo de o presidente ter tanta raiva das mulheres, após os ataques à jornalista. 

“Eu fui o presidente que mais sancionou lei para mulheres. Uma mulher não tem que ser defendida só por ser mulher. Chega de vitimismo, somos todos iguais”, disse ele, que também afirmou que boa parte das mulheres do país o amam. “Eu defendo a família, sou contra as drogas. Eu defendo as mulheres” disse.

Soraya escolheu Lula para perguntar sobre tributos e propostas de melhoria, ao afirmar que “o mandato perfeito que Lula tanto cita só existe para se eleger”. Lula rebateu: “A senhora fala que não viu esse país que eu falei. Mas a sua empregada doméstica viu, o seu motorista viu, o seu jardineiro viu. O pobre desse país vai voltar a ser respeitado”, disse ele, um pouco exaltado. 

Já Ciro resolveu fazer a pergunta a Felipe D’Ávila e os dois usaram o tempo para criticar o PT.

O candidato do PDT voltou a ter a palavra em seguida, pois foi o escolhido por Bolsonaro para falar sobre os direitos das mulheres.

O presidente citou medidas do próprio governo e questionou sobre a opinião do pedetista. “O senhor, aparentemente, não percebe ou não dá valor, a essa questão feminina. Assistimos aqui a jornalista Vera Magalhães, que tantas vezes me criticou, é uma amiga que quero bem e, às vezes, respondo com certa dureza”, e lembrou da frase do presidente de que a filha, Laura, foi uma “fraquejada”. Em seguida, falou da necessidade de políticas públicas para mulheres.

O presidente pediu desculpas por chamar a própria filha de fraquejada e relembrou a fala de Ciro Gomes sobre Patrícia Pillar, com quem foi casado Na ocasião, o pedetista afirmou que o principal papel da atriz era dormir com ele. Ciro chamou a fala de “gracinha” e classificou o erro como grave. “Eu vim de uma cultura machista e aprendi. Você que não aprende nunca”, disse Ciro Gomes.

O ex-presidente Lula questionou Tebet sobre a corrupção na compra de vacinas, já que ela atuou na CPI da Covid. “Houve, sim, corrupção na tentativa de compra de vacinas”, disse ela, afirmando a Lula que também houve corrupção no governo dele. Ambos ainda fizeram críticas aos sigilos decretados por Bolsonaro. 

Datafolha: Entre indecisos, Tebet vence o debate

Ao longo do debate, o Instituto Datafolha realizou, com eleitores indecisos, uma pesquisa qualitativa. O levantamento, entrevistou 64 eleitores indecisos ou que declaram votar em branco, divididos em três salas virtuais. Todos os participantes avaliaram a performance dos candidatos.

O levantamento mostra que Simone Tebet (MDB) foi a presidenciável com o melhor desempenho no debate na Band, enquanto Jair Bolsonaro (PL) teve a pior avaliação entre eleitores indecisos ou que pretendem votar em branco, com 51% dos votos, seguido por Lula, com 21%.

A atuação de Tebet recebeu a melhor avaliação nos três blocos do evento. A candidata emedebista recebeu 43% dos votos, seguida de Ciro Gomes (PDT), com 23%. Lula e Bolsonaro empataram na terceira posição, com 10%.

Pedro Munhoz[email protected]

Editor de Política do BHAZ. Graduado em Direito pela Faculdade Milton Campos e em História pela UFMG, trabalhou como articulista de política no BHAZ entre 2012 e 2013. Atuou como assessor parlamentar desde 2016, com passagens pela Câmara dos Deputados, Câmara Municipal de Belo Horizonte e Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

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