Cinco assombrações que ajudam a contar a história de Belo Horizonte em seus 126 anos

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Em BH, os contos de terror narram as memórias concretas e imaginárias de quem viveu por aqui (Divino Advincula/PBH)

Quem nunca ficou com medo de andar pelas ruas de Belo Horizonte à noite depois de ouvir a lenda da Loira do Bonfim, bom mineiro não é! Além dessa, que é uma das histórias mais famosas da cidade, outros exemplos de contos de terror tipicamente belo-horizontinos não faltam. São dezenas de “causos” de assombrações que, ainda que pouco conhecidos, narram memórias importantes da cidade.

A professora de história da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Heloísa Murgel Starling, há anos se dedica a pesquisar a origem e os “rastros” deixados pelos fantasmas de Belo Horizonte. Para ela, esses personagens tão curiosos têm o papel fundamental de contar a história íntima e imaginária da cidade.

“Os fantasmas são fragmentos de memória, eles contam a história. Eles são rastros e estão dizendo para nós que alguma coisa aconteceu aqui. Uma cidade que é constante ‘construção e destruição’, como Belo Horizonte, ela precisa gerar fantasmas para preservar os seus rastros”, explicou a historiadora em reportagem especial feita pelo BHAZ.

Conheça cinco fantasmas de Belo Horizonte

Loira do Bonfim

Uma das lendas mais populares da cidade diz respeito a uma moça loira que tira o sono dos taxistas que rodam pela região Noroeste da cidade. Conhecida como “Loira do Bonfim”, a figura fantasmagórica é vista normalmente a noite e pede uma ajuda um tanto quanto inusitada.

“Ela era uma moça muito bonita, loira, que pedia carona para os taxistas até o bairro do Bonfim. Quando eles chegavam até o endereço, a loira sumia misteriosamente. De repente, quando reparavam a localização, eles estavam bem em frente ao Cemitério do Bonfim”, explica a escritora Paloma Bernardino.

+Cemitério do Bonfim é guardião das lendas e ‘causos’ que constroem a história de Belo Horizonte+

Ao BHAZ, a pesquisadora conta que seus avós trabalhavam no Cemitério do Bonfim, que foi a primeira necrópole de Belo Horizonte. Por isso, para ela a história da “Loira do Bonfim” tem um gostinho familiar e bastante especial. “A minha avó cresceu em meio ao cemitério, porque o meu avô não tinha com quem deixar os filhos. Então minha mãe sempre me contava essas histórias”, explica Paloma.

Fantasma do Palácio da Liberdade

Outra fantasma belo-horizontina que tem muita história pra contar é a da Maria Papuda, famosa por assombrar os governadores de Minas no Palácio da Liberdade, na região Centro-Sul da capital. De acordo com a historiadora Heloísa Starling, a figura aparece para cobrar justiça àqueles que tiveram suas propriedades destruídas em prol da construção de Belo Horizonte.

“O palácio está exatamente em cima de uma casa do antigo Curral del Rei. Nessa casa morava uma mulher conhecida como ‘Maria Papuda’, existem fotos que mostram ela e os filhos por lá. Daí nasceu a lenda de que ela aparece no Palácio da Liberdade, apenas para os governadores. E aquele que a enxergar, morre”, conta.

Coincidência ou não, ao menos dois governadores de Minas já morreram dentro do palácio. Um deles foi Raul Soares, governador entre 1922 e 1924, que sofreu um ataque cardíaco enquanto tomava banho.

Avantesma da Lagoinha

Um fantasma que foi bastante famoso no século passado, mas que acabou caindo no esquecimento é o “Avantesma da Lagoinha”. Conforme conta Heloísa, ele é uma criatura disforme que aparecia na região Noroeste de Belo Horizonte, na época em que a cidade era cortada por linhas de bonde.

“Ele aparecia chorando compulsivamente, lamentando tudo o que ele perdeu na sua história. Ele então se senta na linha do bonde e o bonde descarrilha. Desde que se popularizou essa história, os motoristas passaram a andar ali de noite com o maior cuidado do mundo”, conta.

Enquanto pesquisava sobre a assombração, a historiadora disse que conversou com vários motoristas no complexo da Lagoinha, que confirmaram a presença de uma “energia diferente” no local. “Eles me diziam: ‘É, tem uma coisa esquisita ali no viaduto, professora! A senhora tem toda razão! Se até a senhora acredita, por que eu não?’”, relembra ela, entre risadas.

Moça-fantasma da Savassi

Uma das assombrações mais melancólicas da cidade certamente á a “Moça-fantasma da Savassi”. Tema de poesia do Carlos Drummond Andrade, a lenda conta a história de uma mulher que morreu jovem, sem tempo de viver uma história de amor. Por esse motivo, ela desce a Serra do Curral e vai até a Savassi em busca dos amores perdidos.

“Você sabe que a ‘Moça-fantasma’ vai se materializar na sua frente, porque quando você anda de madrugada ali na Savassi, você sente um forte perfume de dama da noite ou de magnólia. Esse é o sinal que ela dá de que vai aparecer e te cobrar os amores que você perdeu”, explica a pesquisadora.

“Ela só vai até a rua Ceará, não chega até o centro da cidade. Quando o Sol começa a nascer, ela volta pra Serra do Curral e as pessoas que vêem ela passar acham que é só uma nuvem”, acrescenta.

Capeta da Vilarinho

Figura ilustre entre quem vive na região Norte de Belo Horizonte, e famoso por toda a capital mineira, o Capeta da Vilarinho habita o imaginário de milhares de pessoas há mais de 30 anos. O que poucos sabem é que um homem, hoje com 58 anos, diz ter vencido o próprio “coisa ruim” em um duelo de dança, na mesma quadra que projetou a assombração para todo o Brasil. Trata-se do professor Ricardo Malta.

Morador do bairro Planalto, também na região Norte da cidade, Ricardo conta com orgulho ter desafiado e vencido o Capeta da Vilarinho num dos bailes ocorridos no local. Segundo ele, o episódio ocorreu quando fazia “bicos” como DJ na juventude. Foi também na Vilarinho que Ricardo apaixonou-se pela dança.

Hoje professor universitário, ele lembra daquele sábado, em dezembro de 1988, quando um homem diferente, no mínimo curioso, apareceu nas quadras para participar de uma das tradicionais competições de dança que aconteciam por lá. “Era um cara esguio, alto, de chapéu, pés pequenos”, diz.

“Como a gente frequentava o Vilarinho há muito tempo, quem era diferente a gente percebia”, relembra Ricardo, em conversa com o BHAZ. O professor conta que o homem misterioso logo foi a encontro de uma das meninas mais lindas da quadra e a chamou para ser seu par no concurso.

Logo que a música começou, todos se impressionaram com o talento do “pé de valsa”. “Passaram-se as fases do concurso e no final ficou eu com minha companheira e ele com essa menina. Todo mundo tinha certeza de que ele ia ganhar, pois ele realmente dançava muito bem, só que no final quem ganhou fui eu”, diz.

Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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