A greve de motoristas de ônibus de BH foi suspensa temporariamente, e pode ser retomada na próxima semana. A decisão foi tomada pelo STTR-BH (Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belo Horizonte) a pedido do TRT (Tribunal Regional do Trabalho), durante audiência nesta terça-feira (23).
De acordo com o presidente do STTR-BH, Paulo César Silva, a suspensão pode durar até sexta-feira (26), caso os representantes das empresas de ônibus não apresentem uma proposta de reajuste salarial até lá.
Se não houver acordo, o sindicato vai retomar o estado de greve – quando os trabalhadores alertam que podem deflagrar uma paralisação a qualquer momento – ainda na sexta. A paralisação do serviço pode voltar na segunda (29) ou na terça-feira (30).
Ainda segundo o presidente, a categoria não recebeu nenhuma proposta por parte dos representantes das empresas na reunião de hoje. “Mas, em obediência e respeito ao desembargador, vamos suspender a greve como foi pedido”, explica ao BHAZ.
Paulo César Silva conta que o promotor do TRT ainda intimou o SetraBH (Sindicato das Empresas de Transporte Público de Belo Horizonte) a apresentar uma proposta até a sexta-feira. Caso isso não aconteça, o estado de greve será retomado.
O representante também esclarece que, com a suspensão, o funcionamento dos ônibus de BH devem começar a normalizar ainda no fim desta tarde.
‘Categoria não irá aceitar imposições indecorosas’
Por meio de nota, o STTR-BH confirmou a suspensão da greve conforme solicitado pelo desembargador Fernando Luiz Gonçalves Rios Neto, com a contrapartida de apresentação de uma proposta com reajuste linear até sexta-feira.
“Vale lembrar que o estado de greve foi aprovado pelos trabalhadores frente a postura intransigente dos empresários, que se recusaram a avançar nas negociações, oferecendo reajuste zero para a categoria”, diz o comunicado (leia na íntegra abaixo).
O sindicato reforça que a greve cumpre determinações legais e “demonstra a força de uma categoria que não irá aceitar imposições indecorosas, como reajuste zero, para fechar a Convenção Coletiva de Trabalho”.
A nota ainda pede, por parte dos responsáveis pelas empresas de ônibus, respeito e ética no retorno das negociações. “Caso contrário, a greve será mantida como forma de preservar e garantir os direitos da categoria”, completa.
Histórico
Os dois sindicatos já haviam se reunido em audiência convocada pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho) na manhã dessa segunda-feira (22). De acordo com o sindicato que representa os motoristas, o encontro “não trouxe nenhum indicativo almejado pela categoria” e uma nova audiência foi marcada para esta tarde.
O sindicato também lamentou a ausência da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) e da BHTrans nas rodadas de negociação. De acordo com o STTR-BH, a participação seria importante já que se trata de negociações difíceis e de trabalhadores lesados.
A audiência de ontem foi convocada após a PBH notificar o TRT para que as empresas e trabalhadores de ônibus cumprissem o mínimo de viagens, uma cota de 60%, determinado pela Justiça.
Um levantamento da BHTrans das 10h30 dessa segunda-feira mostrou que nenhuma das estações cumpriu a frota mínima de viagens. Após a reunião, o STTR-BH informou que a greve dos motoristas seria mantida, mas também se comprometeu a cumprir a cota determinada pela Justiça.
“O sindicato reafirma a importância dos trabalhadores cumprirem as determinações judiciais, inclusive quanto à escala mínima, a fim de garantir que nossa greve seja realizada dentro da legalidade”, afirmou o presidente do sindicato.
A greve
Na última quinta-feira (18), o sindicato informou que os motoristas de ônibus de BH iniciariam uma greve a partir de hoje. Os motoristas de ônibus pedem um reajuste de 9% nos salários, além do reajuste do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).
O presidente do sindicato, Paulo César Silva, explicou ao BHAZ na última quinta-feira que a categoria já está entrando no terceiro ano sem reajustes tradicionais. Os trabalhadores já haviam decretado estado de greve desde a semana anterior, após decisão feita em assembleia.
No estado de greve, os trabalhadores alertam que podem deflagrar uma paralisação a qualquer momento. “Como ninguém nos chamou para conversar, optamos por já enviar o aviso de greve à prefeitura, às empresas e às forças de segurança, começando à meia-noite da segunda”, disse o presidente.
Paulo César Silva argumentou que os motoristas de BH trabalharam durante toda a pandemia de Covid-19, se expondo a riscos. “Passamos por todas as mazelas, em ônibus cheios sem higienização, cumprimos nosso papel e não recebemos nenhum reajuste”, defende.
Paulo César ainda pediu desculpas à população de BH pela greve, mas afirma que “não tinha outro caminho”.
Os motoristas de ônibus pedem um reajuste de 9% nos salários, além do reajuste do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). Confira as outras reivindicações feitas pelo Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de BH que levaram à greve:
- Ticket de alimentação de R$ 800,00;
- Pagamento do ticket no atestado;
- Remoção do banco de horas;
- Abono salarial 2019/2020;
- Retirada da limitação do passe livre;
- Manutenção do passe livre para o afastado;
- Melhoria no plano de saúde.
Nota do STTR-BH
“A diretoria do Sindicato dos Rodoviários de BH (STTRBH) comunica a suspensão, solicitada pelo Desembargador Fernando Luiz Gonçalves Rios Neto, temporária da greve deflagrada na última segunda-feira, 22, como forma de retomar as negociações coletivas com a classe patronal. Durante audiência realizada no dia 23 de novembro e mediada pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT), foi proposta a interrupção do movimento com a contrapartida de apresentação de uma proposta, até o dia 26 de novembro – sexta-feira, com reajuste linear.
Vale lembrar que o estado de greve foi aprovado pelos trabalhadores frente a postura intransigente dos empresários, que se recusaram a avançar nas negociações, oferecendo reajuste zero para a categoria. Fato que evidencia um total desrespeito aos operadores do transporte coletivo que, desde 2019, não recebem qualquer tipo de reajuste no contrato de trabalho.
Entretanto, a mobilização dos Rodoviários chamou a atenção das autoridades e levou uma negociação estagnada para o TRT. A greve, cumpre os tramites legais e demonstra a força de uma categoria que não irá aceitar imposições indecorosas, como reajuste zero, para fechar a Convenção Coletiva de Trabalho.
Pesa na suspensão da paralisação, o compromisso que cada rodoviário tem com a população, além do voto de confiança ao Desembargador Fernando Luiz Gonçalves Rios Neto, que passou a mediar os debates.
Dos patrões, esperamos apenas respeito e ética no retorno das negociações, caso contrário, a greve será mantida como forma de preservar e garantir os direitos da categoria”.