Marcos Guilherme, do Santos, revela impactos de ofensas na web: ‘Estava entrando em depressão’

marcos guilherme
Marcos Guilherme contou sobre os ataques recebidos em momentos ruins (Ivan Storti/Santos FC)

Em meio ao turbulento ano de 2021, o atacante Marcos Guilherme, do Santos, passou por uma jornada fora dos gramados: Os impactos profundos dos xingamentos recebidos em redes sociais. O jogador contou que precisou ficar “offline” para cuidar da saúde mental, em entrevista à reportagem especial do UOL Esporte publicada na sexta-feira (24). Neste ano, o Santos quase foi rebaixado nos Campeonatos Paulista e Brasileiro.

Ataques a Marcos Guilherme

Antigamente, o atacante costumava utilizar o celular após os jogos para conferir as opiniões dos torcedores sorbe sua atuação em campo. Em dias ruins, o atleta lia “pipoqueiro” e “cai fora do meu time”, além de outras ofensas frequentes que abalaram seu psicológico dia após dia.

Diante dessa rotina estressante viciosa, Marcos Guilherme resolveu abolir o celular depois das partidas e preferiu ficar longe das redes sociais. Além disso, o atacante também passou a orientar os mais jovens do elenco santista.

“Eu procuro passar para os mais jovens um pouquinho do que passei. Isso acabou comigo recentemente, ano passado no Inter. Hoje, vendo tudo que passou, eu estava entrando em uma depressão, com certeza. Quando eu ia treinar, estava mal, em uma situação difícil, eu não queria voltar para casa”, disse o jogador ao UOL.

Família

Marcos também revelou que sentia vergonha de si mesmo: “Eu tinha vergonha de olhar pra minha esposa e filhos, tudo porque eu não conseguia render em campo. E por ficar lendo coisas que me abalavam, eu estava entrando nessa bolha e não conseguia sair”.

Nem a família do jogador fica de fora das ofensas proferidas pelos torcedores. A esposa Karoline Souza e os filhos Guilherme, de 5 anos, e Pedro, de 2, também recebem ataques em maus momentos em campo.

Marcos Guilherme durante treino na equipe paulista (Ivan Storti/Santos FC)

‘Desliga o celular’

“Mano, para! Desliga o celular, você não vai ver nada de bom aí. O que tiver que falar, nós falamos entre nós aqui! Nós resolvemos. O que tiver que melhorar vamos melhorar. Mas o que você ver aí [no celular] vai fazer com que você fique pior do que está agora. É besteira”, disse Marcos Guilherme a um companheiro de equipe após a eliminação do Santos para o Libertad, pela Sul-Americana.

“Eu procuro passar isso para os mais jovens para que eles tenham essa mentalidade o quanto antes, vai ser importante para o restante das carreiras deles”, ressaltou o atacante.

Ataques sofridos pelo atacante quando jogava pelo Internacional, em 2020 (Reprodução/Instagram)

‘É pouco falado’

Na entrevista, Marcos Guilherme criticou a facilidade de qualquer usuário da internet proferir ofensas de maneira praticamente impune. “A rede social dá voz a todo mundo. Se escondem atrás do celular, do computador, escrevem o que querem e não tem consequência alguma. Essa parte mental precisa ser trabalhada”, afirmou.

“Isso é pouco falado. Ultimamente tem aparecido um pouco mais, como o exemplo da ginasta [Simone Biles] que não conseguiu atuar nas Olímpiadas. Precisamos falar mais disso. A cada dia que passa eu tenho mais certeza de que a parte mental é até mais importante que a física. Se você não tiver bem na sua cabeça, as coisas não acontecem”, defendeu o jogador.

Carreira

Na entrevista ao UOL, Marcos Guilherme também falou sobre as dificuldades que enfrentou para adaptar a novos posicionamentos em campo, que ocasionaram “jejum” de gols durante o ano. O atleta, que começou a carreira muito cedo, relatou histórias antigas, seus trabalhos anteriores, a quase ida à Itália na infância, e o que espera do futuro. Clique e leia a reportagem completa.

Caso recente

Outro jogador brasileiro que quebrou o silêncio sobre a saúde mental é Matheusinho, ex-atacante do América e que atualmente joga no futebol israelense. Em outubro deste ano, ele fez um desabafo em sua conta pessoal no Instagram.

“Desculpa rapaziada, não vi aqui parar querer me amostrar nem nada, mas senti no coração de falar um pouco. Só queria compartilhar um pouco, ultimamente não tenho andado muito bem, uma tristeza enorme invadiu meu coração”, escreveu.

Para Ariel Murlik, psicólogo clínico que trabalha com atletas, o esporte está fortemente ligado à sociedade. “A saúde mental em si é um reflexo da sociedade inteira. As modalidades de alto rendimento exigem uma dedicação intensa e crescente, para vitórias pessoais e coletivas esperadas. O atleta precisa se destacar sempre, ser efetivo e ultrapassar barreiras psicológicas diárias”, pontuou, em conversa com o BHAZ.

Um atleta vir a público para falar sobre a própria saúde mental é um ato bastante corajoso, segundo Ariel. “É importante tanto para ele, quanto para o esporte em geral. As pessoas conseguem olhar para esse outro lado. Não só para seu porte físico, se ele está fazendo gol… Olhar para o que os atletas passam além das quatro linhas é fundamental”, argumentou o psicólogo.

jogador matheusinho, ex América
Em outubro, Matheusinho fez um desabafo sobre depressão (Mourão Panda/América)
Edição: Roberth Costa
Beatriz Kalil Othero[email protected]

Jornalista formada pela UFMG, escreve para o BHAZ desde 2020, e atualmente, é redatora e fotógrafa do Portal. Participou de reportagens premiadas pela CDL/BH em 2021 e 2022, e pela Rede de Rádios Universitárias do Brasil em 2020.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!