O meia Celsinho, do Londrina, repudiou a decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) de devolver os três pontos ao Brusque após o caso de racismo na 21ª rodada da Série B. Alvo desse crime ao ser chamado de “macaco” pelo presidente do Conselho Deliberativo Júlio Antônio Petermann em agosto, o atleta do Londrina deu uma entrevista exclusiva ao portal globoesporte nesta segunda-feira (22). Segundo ele, “a decepção é muito grande” e o episódio mostra que “ao invés de evoluirmos, acabamos retrocedendo”.
‘Tiro no pé’, diz Celsinho
De acordo com o jogador do Londrina, o tribunal tomou a decisão errada, mas a luta pelo fim do racismo não vai parar. “Infelizmente, acabamos retrocedendo e o STJD deu um tiro no pé. Independente do que aconteça em julgamentos, nossa luta é outra. Irá continuar e nós não nos calaremos. A busca por igualdade vai muito mais além do que apenas três pontos, apenas um julgamento”, assegurou.
A decisão não enfraquece a vontade de Celsinho em continuar protestando por justiça e respeito, pelo contrário: “Essa luta não é só minha, mas de milhares de pessoas. Não é no primeiro passo que deu errado que eu vou abandonar isso. Isso só me dará mais forças para que eu continue lutando e continue fazendo o que milhares de pessoas têm receio de fazer”.
Celsinho também ressaltou a importância de cada jogador denunciar crimes sofridos. “Peço para que eles continuem expondo, continuem lutando contra esses criminosos, porque só assim nós conseguiremos caminhar para um lado positivo. Torcer para que a Justiça seja feita de forma severa para que esses criminosos não voltem a cometer mais esses crimes”, finalizou.
A @CBF_Futebol e o @Oficial_STJD não são apenas cúmplices do racismo no futebol brasileiro, são as engrenagens principais que mantém esse crime vivo e cada vez mais forte. Pra quem acompanha o futebol brasileiro é um sinal claro: você pode ser racista o quanto você quiser.
— PorcoÍris ⓟ 🏳️🌈 (@oporcoiris) November 19, 2021
Agosto: Relembre o caso
No final de agosto, o jogador do Londrina foi vítima de racismo de um membro da comissão técnica do Brusque, em partida válida pela 21ª rodada da competição. O homem foi identificado como o conselheiro Júlio Antônio Petermann. Na época, a equipe foi punida com perda de 3 pontos na tabela da Série B e multa no valor de R$ 60 mil. Petermann foi suspenso por 360 dias e recebeu uma multa de R$ 30 mil.
Em uma outra ocasião, o jogador foi vítima de ataques racistas ao seu cabelo. O narrador esportivo Romes Xavier e o comentarista Vinícius Silva, chamaram o cabelo black power de Celsinho de “imundo” e “pesado”. Os comentários racistas foram ditos durante a transmissão do jogo contra o Goiás.
Outubro: Carta de jogadores
Em outubro, jogadores e funcionários do Brusque fizeram uma carta com o pedido de anulação da punição do clube. De acordo com eles, a decisão do STJD não serviu para punir o dirigente que proferiu as falas racistas. “Penaliza a nós, ao nosso trabalho e pode comprometer o nosso futuro. Nós, que não cometemos nenhum ato de racismo e não nos beneficiamos dele”.
Ao tomar conhecimento da carta do Brusque, o jogador Celsinho ficou perplexo. “Eu recebi com muita perplexidade essa notícia de que os atletas e funcionários do Brusque estão procurando uma reconsideração do STJD em relação aos pontos perdidos no meu caso. Nós vemos e entendemos que a punição ainda foi branda”.
Novembro: 3 pontos de volta
Na semana da Consciência Negra, na última quinta-feira (18) o time catarinense Brusque recuperou os três pontos que lhe haviam sido subtraídos na série B do Campeonato Brasileiro como punição à fala racista de um dos dirigentes. Em videoconferência realizada entre julgadores do STJD, ficou decidido por 6 votos a 2 que o time apenas perca um mando de campo e pague uma multa de R$ 60 mil. A punição de Júlio seguiu a mesma.
•Semana da consciência negra
— debate y debate 🇧🇷 (@debateydebate) November 18, 2021
•Brancos julgando um caso de racismo
•Julgaram o “nível” do racismo
•Citaram racismo reverso
•Muitas vezes transformaram Celsinho no culpado e se colocaram como vítimas
•Soltaram uma nota nojenta logo depois do crime
E com isso, saíram impunes
