‘CPI do Sertanejo’: Cidade mineira cancela show de R$ 1,2 milhão de Gusttavo Lima após polêmicas

Gusttavo Lima
Internautas pedem uma ‘CPI do Sertanejo’ para investigar a regularidade das apresentações pagas por prefeituras (Reprodução/@gusttavolima/Instagram)

A polêmica envolvendo shows de cantores sertanejos pagos por prefeituras ao redor do país resultou no cancelamento do show de Gusttavo Lima na cidade de Conceição do Mato Dentro, na região Central de Minas. Enquanto isso, internautas pedem uma “CPI do Sertanejo” para investigar a regularidade das apresentações do gênero que são financiadas por verbas públicas.

Gusttavo Lima se apresentaria na cidade mineira na 30ª Cavalgada do Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, no dia 20 de junho. O show custaria à Prefeitura de Conceição do Mato Dentro um total de R$ 1,2 milhão, e a dupla Bruno e Marrone também se apresentaria no evento, por R$ 520 mil.

Apesar de defender a contratação dos artistas em nota divulgada nessa sexta-feira (27), a prefeitura voltou atrás e decidiu cancelar as duas apresentações. Por meio de vídeo divulgado nas redes sociais nesse sábado (28), o prefeito Zé Fernando (MDB) disse que a cavalgada foi envolvida “em uma guerra político-partidária que não tem nada a ver conosco, com nossa festa”.

O prefeito citou outros artistas que já se apresentaram em edições do evento, como Zezé di Camargo e Luciano, César Menotti e Fabiano e Maiara e Maraisa, e disse que a ida de Gusttavo Lima e de Bruno e Marrone será adiada.

De onde vem a verba?

De acordo com a nota divulgada pela prefeitura na sexta-feira, os shows seriam pagos por meio de recursos da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM). Essa verba é paga por mineradoras “como contraprestação pela utilização econômica dos recursos minerais em seus respectivos territórios”.

Mas, de acordo com o portal da ANM (Agência Nacional de Mineração), os recursos da CFEM só podem ser utilizados “em projetos, que direta ou indiretamente revertam em prol da comunidade local, na forma de melhoria da infraestrutura, da qualidade ambiental, da saúde e educação”.

A Prefeitura de Conceição do Mato Dentro, no entanto, argumenta que “não há restrição para uso dos recursos da CFEM em ações, projetos e eventos que tragam melhoria para a qualidade de vida dos moradores locais, seja ele investido em estruturas como moradias, infraestrutura pública, saneamento básico, etc. ou investido para o desenvolvimento econômico da cidade”.

Entenda a polêmica

Toda a polêmica foi causada porque Gusttavo Lima foi contratado pela prefeitura de São Luiz, a menor cidade do estado de Roraima, para fazer um show por R$ 800 mil. A informação foi divulgada em fevereiro, mas veio à tona nesta semana em meio a um debate sobre a Lei Rouanet e sobre shows pagos com dinheiro público.

Isso porque, três semanas atrás, o cantor Zé Neto, da dupla com Cristiano, durante um show no Mato Grosso que a dupla não precisa da Lei Rouanet e nem de fazer “tatuagem no t*ba”, se referindo à Anitta.

“Estamos aqui em Sorriso, Mato Grosso, um dos estados que sustentou o Brasil durante a pandemia, nós somos artistas que não dependemos de Lei Rouanet. O nosso cachê quem paga é o povo. A gente não precisa fazer tatuagem no t*ba, para mostrar se a gente está bem ou não. A gente simplesmente vem aqui e canta, e o Brasil canta com a gente”, disse o artista na ocasião.

Após a repercussão da fala, Zé Neto chegou a alfinetar novamente a cantora, mas depois acabou pedindo desculpas. As declarações levantaram um debate a respeito do uso de verba pública em shows. Isso porque a própria apresentação da dupla sertaneja foi paga pela Prefeitura de Sorriso, com R$ 400 mil de dinheiro público.

Depois das críticas ao show de Gusttavo Lima em Roraima, ele divulgou uma nota defendendo que “não cabe ao artista fiscalizar as contas públicas”. O cantor reforçou que cabe ao ente público destinar ou não os valores para a contratação de artistas, e que há órgãos públicos responsáveis pela fiscalização desse tipo de gasto.

Edição: Vitor Fernandes
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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