Ameaças de ataques a escolas levam temor a pais e alunos em MG: o que se sabe e o que é possível fazer?

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Desde o atentado que ocorreu em Blumenau, ameaças à escolas estão sendo registradas de forma massiva em todo o país (Amanda Dias/BHAZ)

Supostas ameaças de ataques a escolas brasileiras têm tomado conta do noticiário nas últimas semanas, levando temor a pais, alunos e comunidades estudantis. Desde o atentado ocorrido em Blumenau, que deixou quatro crianças mortas na quarta-feira (5), mensagens que falam em “massacres” são registrados de forma massiva em todo o país – várias delas com o objetivo de provocar alarde.

Levantamento feito pelo BHAZ dá conta de ao menos dez casos de ameaça à segurança escolar em Minas nas últimas duas semanas. Em coletiva realizada nesta segunda-feira (10), a Polícia Militar garante que não há risco iminente no estado e que todas as ameaças notificadas foram descartadas.

“As mensagens de supostas ameaças em redes sociais, envolvendo escolas da rede estadual, estão sendo monitoradas e investigadas pelos órgãos competentes. Até o momento, não foram detectadas quaisquer anormalidades nas escolas da rede estadual”, diz nota da Secretaria de Educação de Minas Gerais. 

Ainda assim, o compartilhamento de mensagens e fake news sobre ameaças de atentados em escolas provoca medo e insegurança, o que leva a Secretaria de Educação a pedir que informações de cunho duvidoso não sejam repassadas. Nesta segunda-feira (10), quatro adolescentes foram apreendidos em Poços de Caldas após levarem facas para a escola, segundo eles para se protegerem de possíveis ataques.

O psicólogo e psicanalista Eduardo Lucas Andrade explica à reportagem que ataques como os ocorridos na creche Cantinho Bom Pastor em Blumenau (SC) e na escola estadual Thomazia Montoro, em São Paulo (SP), acabam impactando os alunos de formas diferentes.

Segundo o especialista, tais ameaças e ataques “impactam de forma diversa, singular e de forma potencialmente alarmante” os estudantes, já que nos “efeitos variados” pode causar “medos, angústias, pânicos, inibições e outros sofrimentos psíquicos”. “Além de prejudicar na escola gera entraves na vida em um todo”, diz ele.

“Além das tragédias ocorridas, o desamparo e as conversas atravessadas podem ser pontos de intensidade. Não é somente o ocorrido que preocupa, mas a forma que se fala sobre ele para as crianças e a falta de acolhida às crianças por parte dos adultos”, define.

O que os pais devem fazer?

Questionado sobre como os pais podem orientar os filhos a respeito das violências em locais em que deveriam se sentir seguros, Eduardo diz que também é díficil para os adultos, já que também se abalam. No entanto, é uma tarefa necessária.

“Sabemos que é difícil falar de algo que também abala quem fala, porém o adulto tem essa tarefa difícil. Caso o adulto não saiba como abordar e a criança apresente sinais de drásticas mudanças, um profissional psicólogo ou psicanalista pode ser buscado para auxiliar no caso”, orienta.

O especialista pontua ainda que é importante criar espaços em que as crianças e adolescentes sejam ouvidos. “Os que se sentirem aptos para tal conversa, podem ampliar a escuta e deixar que as crianças digam o que estão entendendo sobre e a partir daí ir dialogando com ela com explicações conforme cada capacidade de compreensão e idade. Acho importante os pais escutarem o que os filhos tem a dizer sobre e lapidar as falas”, explica.

“Caso só os adultos falem, pode ser que atropelem o que a criança sente e esta nem diga. Escutando e dialogando, os adultos podem mostrar que as crianças não estão sozinhas e que elas têm lugares para pedirem ajudas. Os adultos podem até orientar como lidarem quando alguém falar de violência perto delas, como, por exemplo, reportar isso a eles. Trabalhar com a escuta e as palavras favorece prevenir muita coisa que no silêncio atua”, pontua o profissional.

Atenção ao comportamento

O psicólogo e psicanalista ainda traça um paralelo entre os ataques contra ambientes escolares e situações relatadas na época da “Baleia Azul”. Para ele, existem lógicas próximas já que muitas das mensagens tem como ponto de partida grupos e redes sociais.

“O efeito de massa estimulado por sugestões perversas e desafios mortíferos carece de ser trabalhado e de ficarmos atentos. Há muita coisa perigosa na internet que preza pelo pior. Quando em grupo as pessoas potencializam ainda mais seu poder de destruição. Deste modo, ficar atento se a criança ou adolescente mostra algum sinal diferente, se estimula ódio, é fundamental”, explica.

“Nas vulnerabilidades da vida há muitos que chegam para propor e desafiar as mais terríveis capacidades destrutivas que nos humanos habita. Precisamos tomar as ameaças quando surgidas como algo a ser escutado e abordado. Redes sociais são vozes de comando para muitas pessoas, deste modo, carece de alertas e em caso de crianças e adolescentes, é importante que adultos acompanhem para lapidar esses eixos que saem da civilidade”, finaliza.

Como lidar com o luto?

Eduardo Lucas Andrade fala também sobre como o luto pode impactar crianças e adolescente expostos a violências no ambiente escolar e como lidar com ele. “Neste caso específico, o trabalho é mais profundo no sentido de lidar com algo que ocorreu no local e com pessoas conhecidas”, explica. “Realmente é importante respeitar o tempo de luto de cada um, sabendo que cada um terá seu tempo de reajustar, de ganhar confiança novamente e até de desenvolver novamente suas concentrações”, continua.

“Respeitar o tempo de luto, deixar local para ser acolhido e que possam falar sobre, além de gerar uma rede de apoio, creio que seja de extrema importância para que se organizem frente a dor que os habita e que para nós chega a ser inimaginável em sua essência. Medidas concretas e visuais também são importantes para que o sentimento de segurança se restabeleça”, define.

PM amplia segurança nas escolas

Nesta segunda-feira (10), a Polícia Militar lançou uma operação que visa ampliar a segurança das unidades de ensino públicas e privadas nos 853 municípios mineiros. Só na região metropolitana de Belo Horizonte, mais de 160 militares atuarão diretamente na patrulha escolar.

Segundo a corporação, o efetivo da patrulha escolar será ampliado e 127 novas viaturas foram entregues para fortalecimento da rede de proteção às unidades de ensino. Além do monitoramento, a corporação também deve realizar palestras e ações educativas nas salas de aula. Nas escolas municipais de BH, a Guarda Municipal tem reforçado a segurança.

“A PM vai fazer mais visitas às escolas, dando dicas de segurança, de autoproteção. A ideia é estarmos todos conectados com esse fim: PM, escolas e também a comunidade, que tem papel fundamental para o fortalecimento da rede e também vai participar observando qualquer anormalidade”, explicou o capitão Cristiano Araújo, da Sala de Imprensa.

Para a coordenadora-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda, uma medida relevante que pode ajudar a combater a violência nas escolas é oferecer formação continuada aos profissionais da educação e capacitá-los a identificar sinais de aproximação de grupos extremistas e a combater múltiplas formas de violência.

“Para combater a violência extremista nas escolas, é necessário fortalecer os grêmios estudantis, as associações de pais e responsáveis e os conselhos escolares como meios de mobilização. Além disso, é importante aprimorar as disciplinas de humanidades, incluindo abordagens antirracistas, feministas e emancipadoras”, disse.

PM diz que não há risco iminente em Minas

Neste fim de semana, circulou por meio das redes sociais uma “Lista do Massacre” com o nome de escolas espalhadas por 35 cidades mineiras que estariam, supostamente, visadas por criminosos. A Polícia Militar garante, no entanto, que a inteligência da corporação não detectou anormalidades em Minas Gerais.

“Quase a totalidade das informações checadas por nós são inverídicas”, disse o capitão. Ainda segundo ele, toda ameaça que chega à corporação é checada. Ela passa a ser considerada boato somente após a instituição concluir a verificação de procedência e conteúdo.

“Episódios de violência causam sensação de insegurança generalizada, mas não estamos alheios. Todos os nossos esforços estão voltados para fortalecer essa rede de proteção. Ameaça para uma escola significa ameaça para todas”, disse. “Neste momento, reitero, não há qualquer lastro de ameaça de ataque a escola em Minas detectado pelos órgãos de inteligência”, concluiu.

Escolas particulares se mobilizam

Ainda nesta segunda-feira, a presidência do Sinepe-MG (Sindicado de Estabelecimentos Particulares de Ensino Sindicado de Escolas Particulares do Estado) se reuniu com representantes da Secretaria de Estado de
Educação Minas Gerais para ampliar as medidas de proteção nas escolas da rede pública e privada.

Neste momento, o sindicato pede que pais e professores se mantenham calmos, mas também vigilantes a possíveis comportamentos incomuns dos alunos.

Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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