Zema busca abrigo em Bolsonaro que tem 30 pedidos de impeachment

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Zema tem sido um dos únicos governadores ainda próximo ao presidente (Marcos Corrêa/PR)

Pouco afeito às estratégias políticas, que acredita ser coisa de gente pouco séria, o governador Romeu Zema (Novo) reafirmou, no domingo (26), o atrelamento ao governo Bolsonaro. Não o faz por razões ideológicas ou de gratidão, até porque o presidente não é liberal e nada fez para o Estado até agora. É possível que o empresário Zema tenha sido beneficiado na eleição de governador por conta do bolsonarismo.

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Foi fator de influência, mas só um dos três. Zema representou terceira via que ganhou visibilidade, quando pediu votos para Bolsonaro, em 2018, diante um cenário de esgotamento da polarização PT-PSDB.

Como membro do Partido Novo, todos esperavam que o foco na gestão seria o principal diferencial dele. Não foi, sequer apresentou projeto de curto, médio ou longo prazos para tirar o Estado da crise financeira. Como não fez pela via administrativa, agora, tenta pela via política, recorrendo à velha política do alinhamento vantajoso.

Pragmatismo da velha política

Não é por ideologia nem gratidão, mas por pragmatismo político. O governo mineiro quer resolver seus problemas financeiros com a ajuda federal. E a hora, talvez, seja a mais apropriada, quando o governo Bolsonaro começa a derreter e, por isso, vai requerer em troca apoio político. Há cerca de 30 pedidos de impeachment contra o presidente.

O que Zema poderá fazer por ele, além de declarações favoráveis como as que deu em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, no último domingo? Poderá ainda adotar, ou copiar, alguma política bolsonarista por aqui, embora nem o próprio presidente tenha tido êxito lá.

Sem contrapartidas federais

Na tragédia de Brumadinho, na Grande BH, quando barragem da Vale arrasou meio ambiente e a economia e matou 300 pessoas, em janeiro de 2019, o presidente veio, sobrevoou e manifestou condolências. Um ano depois, na crise das águas, voltou, sobrevoou áreas atingidas e prometeu R$ 1 bilhão para três Estados arrasados. Pouco se divulgou do que chegou ou não da ajuda federal. Publicidade não é só marketing, é transparência e prestação de contas.

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Na crise atual, com pandemia e mortes, o presidente prioriza a defesa da economia combalida, dos empregos existentes e dos subempregos que gerou. Na inversão de prioridades, ainda chama a Covid-19 de “gripezinha” e insiste em reduzir o isolamento social. Critica governadores e prefeitos que fazem o contrário e só abraça os que lhe são fieis e aliados. Ou seja, que o aplaudem apesar de ficar na contramão do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde.

Falta jeito mineiro de fazer as coisas

Abrir a economia agora soa como temerário e operação de alto risco, exatamente porque nosso Estado e o Brasil estão entrando naquela fase mais aguda da doença. Segundo os especialistas, de maior grau de infecção. Se abrir, haverá consumidor para comprar? As pessoas estão se sentindo seguras para sair de casa? Protocolos e planejamentos bem feitos e sustentáveis são bem-vindos e devem ser aplicados na hora certa.

Dar apoio e receber ajuda não podem ser encarados como moeda de troca para que o Governo de Minas passe a tratar a realidade com o olhar federal. No dia 22 passado, o secretário da Fazenda, Gustavo Barbosa, avisou que, se o governo federal não ajudar, não terá como pagar os salários dos servidores em maio. A manifestação foi feita durante audiência na Assembleia Legislativa de Minas.

Incerteza e angústia para os servidores; a maioria deles recebeu até agora, hoje, aos 28 dias do mês de abril, que acaba na quinta (30), apenas uma parcela do salário de R$ 2 mil. A cada mês, o governo faz esse suspense por motivos diferentes. Está faltando transparência nessa questão.

Senador mineiro cotado

Saiu até na imprensa nacional que o senador mineiro Rodrigo Pacheco (DEM) poderia ser indicado para o lugar de Sérgio Moro no Ministério da Justiça. A sugestão teria sido feita a Bolsonaro pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (também do DEM). Pacheco não diz que sim nem não, porque o convite não lhe foi feito.

A iniciativa de Alcolumbre, também negada por ele, seria meio de evitar que Bolsonaro promovesse “ação entre amigos” na distribuição dos cargos de ministro da Justiça e de chefe da PF. O que confirmaria a denúncia feita, na saída (25 de abril), pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro de interferência política na Polícia Federal.

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“Com relação à informação divulgada, venho esclarecer que não participei de nenhuma conversa com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, ou com qualquer integrante do Governo Federal sobre indicação para cargo de ministro da Justiça. Meu foco é o trabalho no Senado, no sentido de ampliarmos o diálogo necessário neste momento, e de buscarmos soluções para os efeitos da pandemia na saúde e na economia”. A nota foi divulgada por Rodrigo Pacheco, que é líder do Democratas no Senado.

Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

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