[Eleições 2018] Pimentel chama Acrônimo de armação, ‘perdoa’ MDB e projeta regularizar salários em 2020

Fernando Pimentel foi o sétimo e último sabatinado pelo Bhaz (Henrique Coelho/Bhaz)

O atual governador de Minas Gerais e candidato a reeleição, Fernando Pimentel (PT), atacou a Operação Acrônimo, da Polícia Federal, na qual ele é investigado por corrupção ativa e passiva, e a classificou como “armação”. “É tudo falso e foi feito contra mim por motivos políticos partidários, eu tenho provas de depoimentos, colhidos nos inquéritos, de agentes da polícia contando a armação lá dentro para desestabilizar o candidato eleito. Tanto é que eu ganhei as eleições e a operação começou no dia seguinte”, afirma.

Além disso, o governador aposta na criação de fundo previdenciário para regularizar os salários dos servidores e criticou as propostas de seus concorrentes para resolver os problemas do Estado. Segundo Pimentel, quem promete cortar gastos como uma ‘fórmula mágica’ está mentindo, já que a máquina pública se encontra no limite.

“Não tem mordomia no Estado, estamos no limite. Não tem o que cortar. Eles falam de cargo de confiança, mas isso custa cerca de R$ 15 milhões em uma folha de pagamento de R$ 2,4 bilhões. Cortar esse valor irrisório vai retirar as gratificações de diretor de escola, presídio, gerente posto de saúde etc. Esse tipo de coisa mirabolante vai prejudicar o serviço prestado à população. Nós precisamos é resolver um problema estrutural de Minas”.

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Pimentel vê com “muita preocupação” o avanço de onda autoritária no Brasil, dá nota sete para seu governo atual, e também voltou a responsabilizar o PSDB pela atual situação do Estado, por conta dos governos de Aécio Neves e Antonio Anastasia que antecederam a gestão do petista. Além disso, o candidato ainda discorreu sobre a sua relação com o MDB, partido aliado que chegou a aceitar pedido de impeachment contra o petista, e uma possível aliança caso seja reeleito.

Fernando Pimentel é economista, foi prefeito de Belo Horizonte, Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, durante o primeiro mandato do Governo Dilma Rousseff e é o atual governador de Minas Gerais. O petista é o último sabatinado na série de entrevistas do Bhaz com os concorrentes ao posto máximo do Executivo mineiro. Relembre as diretrizes da cobertura da disputa política deste ano feita pelo portal aqui.

Acrônimo

O governador diz que a operação que o investiga trata-se de uma armação com intuito de prejudicar sua governabilidade. “É tudo mentira. É uma perseguição direta, que teve uma delação sem prova e eu estou tranquilo. Não tenho conta na suíça, não tenho patrimônio oculto, não tenho laranja operando no meu nome, não tenho mala de dinheiro escondido e nem áudio pedindo propina e mandando matar ninguém. Não há prova nenhuma contra mim. Nesses quatro anos, minha vida foi devastada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal e não acharam nada. Vou ser julgado e vou sair inocente”, afirma.

Parcelamento de salário

Desde 2016, segundo ano da gestão de Pimentel, os salários dos servidores do Estado estão sendo escalonados e com registros de atrasos. Segundo o governador, a responsabilidade pelo fato é estrutural e será resolvida caso seja reeleito.

“O parcelamento é a consequência de um desequilíbrio estrutural nas contas públicas de Minas. Nós precisamos resolver esse problema, que não é exclusivo de Minas, mas afeta Estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e outros. Assim como a União, as contas dos Estados mais antigos estão super desequilibradas. Em Minas esse desequilíbrio é causado pela previdência do Estado. Nós vamos criar um fundo previdenciário e, em um ano, mais ou menos, vamos resolver esse problema”, diz Pimentel.

De acordo com o candidato, falta dinheiro aos cofres públicos por conta da manutenção da previdência. “Se fosse possível retirar as contas da previdência do orçamento do Estado, teríamos um superávit de R$ 8 bilhões, sobraria para investimento em estrada, saúde, segurança, educação. Mas, a realidade é que arrecadamos R$ 6 bilhões e pagamos cerca de R$ 22 bilhões de folhas de aposentados. Sendo assim, eu pego R$ 8 bilhões do orçamento fiscal e ainda ficam faltando R$ 8 bilhões que é o déficit”, explica.

Fundo previdenciário

Para solucionar o problema, o governador propõe a criação de um fundo previdenciário. “Esse fundo já existiu e, inclusive, foi extinto pelo Anastasia, que passou a mão no dinheiro e gastou com despesas correntes. Tem que mudar a constituição brasileira para criar esse fundo autônomo que vai se encarregar da previdência. É uma solução de longo prazo, pois vai demorar a ser capitalizado e sustentar as aposentadorias. Porém, vai resolver o problema das aposentadorias. Nós já estamos alinhados com o Fernando Haddad [candidato à Presidência da República pelo PT], que vai nos ajudar nisso e vai ajudar os outros Estados também”.

Pimentel ressalta que o fundo não foi criado anteriormente, pois é necessário o apoio constitucional do Governo Federal. Ele também explica de onde virá parte do dinheiro para manter o fundo. “Ele será capitalizado com todos os imóveis que podem gerar recursos e ações das empresas estatais, com a cláusula de não vender essas ações, mas usar os dividendos para pagar as aposentadorias. Além disso, vamos buscar os recursos que a União deve ao Estado por conta da Lei Khandir. São R$ 134 bilhões para receber, reconhecidos pelo STF”.

Piso salarial

Quanto ao piso salarial dos professores, Pimentel se comprometeu a continuar perseguindo a meta no próximo mandato e afirmou que, de todos os governadores, ele é o que está mais próximo disso.

“Nós demos um aumento de 47% aos professores e descongelamos a carreira que quase foi destruída no Governo Anastasia. Além disso, nós retomamos o pagamento das vantagens. No meu governo, os professores tiveram uma valorização que nunca existiu. Eu sou o governador que chegou o mais próximo de pagar o piso salarial e o compromisso está mantido para o próximo mandato: vamos continuar seguindo essa meta”, afirma.

O candidato acrescenta ainda que, “com salário escalonado, o professor, atualmente, ganha mais na primeira parcela do salário do que ganhava integralmente no governo anterior”.

Nota 7

Questionado sobre qual nota daria para a gestão realizada desde 2015 à frente do Estado, Pimentel diz que “fez muita coisa com pouco recurso”. Se eu desse 10 seria muita ousadia. Mas eu acho que não mereço muito menos que um sete, não. Fiz muita coisa com pouco recurso, e tenho um mérito extraordinário, que não é meu, é da equipe e dos mineiros, o Estado está funcionando em meio a maior crise, a mais devastadora crise que a República brasileira já viveu”, afirmou.

“Minas Gerais está funcionando. Isso não é pouca coisa, não, porque o Rio entrou em colapso, o Rio Grande do Sul também. Estados que estão com situação financeira semelhante à nossa desceram ladeira abaixo e nós estamos funcionando”, completou.

Onda autoritária

Torturado durante a Ditadura, o candidato à reeleição disse que não imaginava, décadas após a redemocratização, vivenciar um avanço de autoritarismo no Brasil. “Vejo com extrema preocupação, minha geração de fato é a geração que lutou pelas liberdades democráticas, pela liberdade de expressão, pela liberdade de imprensa. Isso que estamos fazendo agora [entrevista] que era impossível a 50 anos atrás, no tempo da Ditadura Militar”, afirmou.

“E agora, com muita preocupação, estamos assistindo o avanço de uma onda autoritária no país, desconhecendo os direitos básicos da cidadania, isso me preocupa muito. Não quero terminar minha vida vendo o Brasil ser arrastado para a obscuridade daquele tempo do passado. Vamos continuar lutando, essa é uma das razões da minha candidatura”, disse.

Nas últimas entrevistas, Pimentel tem repetido que conseguirá cumprir uma série de promessas porque está alinhado com Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência da República. Perguntado sobre como seria sua relação caso o postulante do PSL, Jair Bolsonaro, vencesse a disputa, o petista garantiu que manteria diálogo.

“Não quero nem pensar nessa hipótese do outro ser eleito. Mas, sendo sincero, acho que o governador do Estado tem que ter relações, tem que acessar, qualquer que seja o presidente, acho que vai ser muito mais difícil com esse candidato que você mencionou [Jair Bolsonaro], e muito mais fácil se Haddad for o presidente”.

Mobilidade

Questionado sobre as políticas que ele pretende adotar quanto às estradas mineiras, caso reeleito, Pimentel afirma que parte do projeto passa pela representação do Estado no Congresso.

“Nós avançamos muito nessa questão durante o Governo Lula, houve o PAC, que trouxe recursos para o Anel Rodoviário, que o Anastasia não gastou em quatro anos e transferiu de volta para o governo federal, dizendo que não dava conta de resolver. Vale lembrar que temos três senadores que não fizeram nada nos últimos quatro anos para Minas, não trouxeram sequer um tostão. Eles podiam ajudar a garantir recursos para a BR-381, que o Temer [Michel, presidente da República] cortou, por exemplo. Não fizeram nada. Temos que melhorar essa situação escolhendo novos representantes do Estado no Congresso”.

Saúde

Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde de BH, 40% das internações nos hospitais da capital vêm do interior do Estado. Além disso, no ano passado, cerca de 4,8 mil partos de gestantes do interior foram realizados em BH. Pimentel foi prefeito da capital na década 2000 e conhece a realidade da cidade. Segundo ele, é complexo desafogar a saúde da capital.

“Em um Estado como Minas, não tem como ter atendimento médico completo em todos os municípios. Nós temos mais ou menos 350 municípios com menos de 5 mil habitantes. Não tem como ter médico para atender essa demanda. É preciso investir no sistema logístico para trazer paciente para um centro maior como a capital. Tem que tirar da cabeça que vai ter equipamento em todo lugar porque não tem como” ressalta.

O candidato ainda aposta em investimento em obras paralisadas. “Nós herdamos da gestão anterior nove obras de hospitais regionais paradas, um foi concluído, três estão com irregularidade de contrato e uma delas é inviável. Além disso, não temos dinheiro para terminar as outras e o Governo Temer boicotou as verbas do SUS para Minas. Então não tem como. A proposta é terminar essas obras e fazer parcerias com entidades filantrópicas e para universidades para administrar os hospitais”, diz.

Ataques ao PSDB

Durante o início de sua pré-campanha Pimentel manteve a estratégia de confronto direto com Anastasia, porém, agora, tem evitado os embates diretos, principalmente nos debates. Questionado sobre isso, o candidato disparou: “Minha estratégia não é a favor nem contra, na verdade, eu estou pouco me lixando para o PSDB. A minha estratégia é falar a verdade”, diz.

“Eu poderia falar que o rombo de Minas é todo culpa dos tucanos, mas começou lá trás. Eles tiveram dinheiro e governaram na época das vacas gordas, durante o Governo Lula, que foi glorioso em arrecadação. Mas, jogaram tudo fora fazendo obras luxuosas e desnecessárias como a Hidroex, a Cidade das Águas que está sendo investigada e é tudo superfaturado, a barbaridade da Cidade Administrativa, um centro de convenção fantasma em São João del-Rei e um aeroporto em Cláudio que não serve pra nada. Podiam ter criado o fundo previdenciário e ter capitalizado, resolvendo os problemas atuais. Mas, eles governaram de costas para o povo mineiro. Pouco se lixando para o povo de Minas”.

‘Perdão’ ao MDB

A relação de Pimentel com o MDB em Minas, que compôs sua base política ao longo do governo, foi estremecida antes das eleições. Primeiro, o seu vice, Antonio Andrada, se desligou do governo dizendo que não concordava com suas políticas, logo após veio a abertura do processo de impeachment aceito pelo presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Adalclever Lopes (MDB) e, por último, o apoio do MDB a Marcio Lacerda, terminando com a candidatura do próprio Adalclever. Entretanto, o governador garante que isso não será empecilho para conversas futuras.

“Na política você tem que fazer acordo e cumpri-los, se alguém descumpriu não fomos nós. O MDB de Minas sempre esteve no campo democrático popular, exceto o vice-governador que bandeou para o outro lado. O MDB estadual tem tido o comportamento correto, tem um candidatura própria democraticamente legítima e, se ganharmos, o que é provável, com certeza serão chamados para integrar a base do Governo”.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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