Atualização às 17:21 do dia 18/01/2022 : Atualizado para incluir informações repassadas pelo Governo de Minas.
A Prefeitura de Barroso, na região Central de Minas, registrou uma morte suspeita da chamada “Flurona”, a infecção simultânea pelos vírus da Influenza e da Covid-19. Uma idosa de 81 anos morreu nesse sábado (15) e, agora, o governo estadual investiga o caso.
De acordo com a prefeitura da cidade, a idosa tinha comorbidades e foi internada no hospital de Barroso no dia 3 de janeiro, testando negativo para Covid-19. Ao apresentar piora no quadro, ela foi transferida para a Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei, no dia 5 do mesmo mês.
Lá, a mulher fez um novo teste de Covid-19 e outro exame para detecção de H3N2, e as amostras foram enviadas à Funed (Fundação Ezequiel Dias). O resultado positivo para Covid-19 saiu no dia 8 de janeiro, e o resultado também positivo para H3N2 saiu nesse sábado.
Investigação
Ainda na tarde de sábado, a paciente idosa morreu. De acordo com a prefeitura de Barroso, a SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais) investiga as amostras para confirmar ou descartar um caso de Flurona. “Aos familiares e amigos da vítima nossos sinceros sentimentos”, completa a administração municipal.
Procurada pelo BHAZ, a SES-MG confirmou a notificação do óbito e informou que “companha a evolução dos casos e aguarda orientações técnicas do Ministério da Saúde para conclusão da investigação”.
De acordo com o órgão, 26 casos de Flurona já foram reportados ao Governo de Minas até esta terça-feira (18), em 15 municípios. Confira a distribuição dos casos notificados:
Município | Casos |
Araxá | 2 |
Barroso | 1 |
Belo Horizonte | 1 |
Bom Sucesso | 2 |
Ipatinga | 1 |
Itamonte | 1 |
Juiz de Fora | 5 |
Monte Carmelo | 1 |
Montes Claros | 2 |
Poço Fundo | 4 |
Ponte Nova | 1 |
São João del-Rei | 2 |
São Lourenço | 1 |
São Sebastião do Paraíso | 1 |
Uberlândia | 1 |
Total | 26 |
A SES-MG ainda ressalta que, antes da pandemia de Covid-19, já não era rara a detecção laboratorial simultânea da Influenza e de outros vírus respiratórios, como o vírus sincicial, o rinovírus, dentre outros.
“Muitos dos vírus respiratórios compartilham não apenas da mesma sazonalidade, mas de vias de transmissão semelhantes, logo, a exposição simultânea a dois agentes distintos pode ocorrer ao mesmo tempo ou em momentos muito próximos, causando uma coinfecção”, esclarece a pasta.
O Governo de Minas também pontua que as implicações da Flurona, como quadro clínico, gravidade, duração e complicações, ainda estão sendo estudadas ao redor do mundo.
Flurona é mais grave? Como tratar?
Nas últimas semanas, um novo termo invadiu o vocabulário brasileiro e, desde então, tem despertado muitas dúvidas. Trata-se da “Flurona”, jargão que mistura os termos “flu” (gripe, em inglês) e “rona” (de coronavírus).
O primeiro caso dessa infecção simultânea foi registrado em dezembro do ano passado, em Israel, e neste início de 2022 as notificações têm sido frequentes. Ainda no dia 11, Belo Horizonte confirmou o primeiro caso de Flurona na cidade, e Minas vem acumulando outros casos.
Mas afinal, a coinfecção representa mais risco aos pacientes? Como tratar e, acima de tudo, como prevenir a Flurona? Sobre o assunto, o BHAZ conversou com dois médicos infectologistas que explicaram que não há motivo para alarde. Confira aqui o que se sabe sobre a infecção dupla até agora.
‘É muito comum’
“Coinfecção é muito comum. Ela acontece quando dois microorganismos ‘invasores’ infectam um mesmo organismo. Ela pode acontecer pelo mesmo tipo de via de infecção, como no caso da Covid e da gripe, mas poderia muito bem ser uma coinfecção de gripe com dengue, entre outras coisas”, explica o infectologista Leandro Curi.
Já o infectologista Luis Gustavo Santos ressalta que a Flurona não se trata de um vírus novo. Ela é apenas a contaminação simultânea pelo coronavírus e pelo H3N2. “São duas doenças que se sobrepõem. Não existe um cruzamento genético dos vírus da Covid-19 com o vírus da Influenza”, esclarece.
Leandro Curi explica que ambos os vírus são contraídos pelas vias aéreas – nariz ou boca – o que pode favorecer a dupla contaminação. Além disso, o afrouxamento das medidas sanitárias que impedem tanto o avanço da Covid-19 quanto o da Influenza pode explicar o aumento de casos.
“Qual é a lógica: os dois vírus estão em alta na sociedade. Então é bem razoável de se pensar que se ambos estão em alta, em algum momentos esses dois vírus vão infectar um mesmo organismo. Então, ambientes fechados, contato próximo, aglomeração e falta de máscara, tudo isso favorece a infecção tanto de um, quanto de outro”, explica.
Flurona é mais grave?
Ainda não há comprovações científicas de que a dupla infecção por Flurona represente um risco maior de mortalidade ou transmissão. O infectologista Luis Gustavo explica que o avanço de ambas as doenças varia de acordo com o organismo de cada paciente.
“De uma forma geral, uma coinfecção sempre representa mais riscos, mas existem diversos fatores a serem levados em conta, o principal deles é a vacinação. Também existem grupos que podem desenvolver essas doenças de uma forma mais grave, são aqueles grupos de risco que a gente já conhece: pessoas com comorbidade, gestantes e pessoas acima de 60 anos”, disse ao BHAZ.
Sintomas parecidos
Com a chegada das novas cepas – a H3N2 da gripe, e a ômicron, da Covid-19 -, tem ficado cada vez mais difícil diferenciar os sintomas dessas duas doenças. É que as dores de cabeça, de garganta, no corpo e febre são comuns a ambas as infecções.
“É bem provável que muita gente não testada esteja coinfectada. Tem gente que acha que tá com gripe, tem gente que acha que tá com Covid-19, às vezes tá com as duas coisas. Porque além da via de infecção ser a mesma, os sintomas também são parecidíssimos”, pondera Curi.
“Com a ômicron, que tá virando prevalente na nossa sociedade, a gente não tem mais aqueles sintomas clássicos, antigos, da falta de olfato, paladar, mal-estar geral. A pessoa tem sintomas muito parecidos com uma síndrome gripal, e a Influenza também”, acrescenta.
Melhor saída? Vacina
Leandro Curi reforça que a principal forma de prevenir possíveis complicações é se imunizando. Mesmo que a atual vacina da gripe não garanta 100% de imunização contra o H3N2, ela pode ser uma barreira importante para impedir o agravamento da doença, conforme aponta o especialista.
“A chance de contaminação nos dois casos pra quem é vacinado é bem menor, a chance de piora clínica é bem menor em quem tá vacinado e a chance de transmitir também. Se essa conjuntura do Flurona fosse nesse mesmo mês, mas no ano passado, o número de óbitos e internações seria absolutamente maior”, analisa.