Duas torcedoras do Atlético são assediadas durante jogos no Mineirão; suspeito é detido

Mineirão jogo atlético
Uma das denúncias aconteceu no jogo contra o Fluminense (Pedro Souza/Atlético)

Mais casos de importunação sexual foram registrados durante partidas do Atlético no Mineirão. Em um deles, um homem de 40 anos foi preso, nesse domingo (28), por beijar à força uma jovem, de 22, após o Galo marcar um gol. Uma outra vítima, de 26, relatou ter sido vítima do crime enquanto estava no bar do estádio com amigas no último dia 10.

De acordo com a Polícia Militar, a primeira vítima contou que estava no Mineirão com amigos. Assim que o Atlético marcou o segundo gol contra o Fluminense, todos começaram a comemorar. O crime sexual, segundo ela, aconteceu após dar um abraço em um conhecido.

O homem agarrou a vítima e deu um beijo sem o consentimento dela dizendo: “Foi gol do Galo”. Uma testemunha chamou a PM e indicou o local onde o suspeito estava. Após ser abordado, o homem se apresentou como advogado e negou as acusações.

Ainda conforme o registro da ocorrência, amigos do suspeito tentaram impedir que ele fosse levado pelos policiais. A vítima dispensou atendimento médico. Todos foram levados para a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher.

Novo caso

Uma outra jovem também compareceu à delegacia do Mineirão, na tarde de ontem, para prestar queixa do crime de importunação sexual. Segundo a vítima, tudo aconteceu na partida entre Atlético e Corinthians, disputada em 10 de novembro, na capital mineira.

A jovem relatou que estava na fila do bar com as amigas quando dois homens as importunaram. Os suspeitos, segundo a denunciante, esfregaram os órgãos genitais nelas.

O namorado da vítima que procurou a PM interveio na situação, mas acabou sendo agredido pela dupla. O mesmo aconteceu com a companheira dele.

Investigação

Por meio de nota enviada ao BHAZ (leia abaixo na íntegra), o Mineirão disse que acompanha “de perto dois novos casos de importunação sexual, ocorridos na partida entre Atlético e Fluminense, nesse domingo (28), pelo Campeonato Brasileiro”.

O estádio disse que “repudia qualquer ato de violência de gênero e vem trabalhando em ações para orientar os torcedores”. Uma das ações é a campanha “Todos contra a Importunação Sexual”, lançada no dia 18 de outubro e “promovida pelo Mineirão, com apoio dos clubes e de órgãos públicos, incentiva a denúncia de tais atos”.

Já a Polícia Civil, também por meio de nota (leia abaixo na íntegra), disse que “vítima e suspeito foram ouvidos”. O órgão também informou que “por falta de elementos legais para ratificar a prisão em flagrante, o suspeito foi liberado”.

Sobre o caso do dia 10, a polícia disse “que instaurou procedimento e realiza diligências para identificar o autor”.

Mineirão vira palco de racismo e assédio

Esta não é a primeira denúncia envolvendo importunação sexual no Mineirão após a volta da torcida ao estádio. Além deste crime, nas últimas semanas, o noticiário também vem sendo marcado também por casos de racismo e injúria racial.

Também no jogo entre Atlético x Corinthians, uma mulher que trabalhava no bar do Mineirão denunciou ter sido vítima de ofensas racistas e de agressão por parte de um torcedor. Bruna Araújo Campos, 37, usou as redes sociais para contar que foi chamada de “lixo” e “macaca” pelo atleticano.

A torcedora Débora Caroline Rodrigues Cotta, 25, por sua vez, foi agarrada e beijada à força por um homem durante o mesmo jogo. Ao BHAZ, ela contou que não teve apoio da equipe do estádio e de ninguém que estava por perto.

Em pleno Dia da Consciência Negra, o publicitário Carlos Miguel Lopes, 25, foi vítima de injúria racial juntamente com o irmão Carlos Eduardo Fernandes, 22. Tudo aconteceu no sábado (20), na partida entre Atlético e Juventude. Eles foram chamados de “bando de macacos” por um torcedor.

“Aquilo acabou com meu dia e com a minha semana. Isso mexe muito com o psicológico e o pior é saber que não fomos os primeiros e nem seremos os últimos a passar por tal situação”, disse ao BHAZ.

Importunação sexual

Importunação sexual se tornou crime em 2018 e é caracterizado pela realização de ato libidinoso na presença de alguém e sem sua anuência. O caso mais comum é justamente o assédio sofrido por mulheres em meios de transporte coletivo, como ônibus e metrô.

Antes, isso era considerado apenas uma contravenção penal, com pena de multa. Agora, quem praticá-lo poderá pegar de um a 5 anos de prisão.

Racismo é crime

De acordo com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), é classificada como crime de racismo – previsto na Lei n. 7.716/1989 – toda conduta discriminatória contra “um grupo ou coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça”.

A lei enquadra uma série de situações como crime de racismo. Por exemplo: recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais, negar ou obstar emprego em empresa privada, além de induzir e incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. O crime de racismo é inafiançável e imprescritível, conforme determina o artigo 5º da Constituição Federal.

Já a discriminação que não se dirige ao coletivo, mas a uma pessoa específica, também é crime. Trata-se de injúria racial, crime associado ao uso de palavras depreciativas referentes à raça ou cor com a intenção de ofender a honra da vítima – é o caso dos diversos episódios registrados no futebol, por exemplo, quando jogadores negros são chamados de “macacos” e outros termos ofensivos. Quem comete injúria racial pode pegar pena de reclusão de um a três anos e multa, além da pena correspondente à violência, para quem cometê-la.

Nota do Mineirão

“O Mineirão teve conhecimento e acompanhou de perto dois novos casos de importunação sexual, ocorridos na partida entre Atlético e Fluminense, neste domingo (28), pelo Campeonato Brasileiro. O estádio repudia qualquer ato de violência de gênero e vem trabalhando em ações para orientar os torcedores. A campanha “Todos contra a Importunação Sexual”, lançada em 18 de outubro e promovida pelo Mineirão, com apoio dos clubes e de órgãos públicos, incentiva a denúncia de tais atos.

Entre as ações está a criação de um canal de denúncias por Whatsapp, com o intuito de agilizar o atendimento e colaborar com apuração dos fatos junto aos órgãos de segurança. O número para denúncia é o (31) 98369 9688, que pode ser acessados por meio dos QR Codes espalhados por todo o estádio.

O trabalho de atendimento, acolhimento, encaminhamento e acompanhamento das vítimas para os casos do último domingo foi feito pela equipe do estádio. O Mineirão reitera ainda que os vigilantes estão orientados a agir para casos de injúria racial, importunação sexual ou qualquer tipo de discriminação.

Quando casos relacionados a essas práticas acontecem no estádio, as ações visam minimizar todos os impactos causados nas vítimas e direcioná-las da maneira mais adequada. O objetivo é melhorar cada vez mais essas ações num trabalho interdisciplinar com os diversos atores da sociedade, cada qual com a sua competência.

Os casos do último domingo estão sendo investigados pela Polícia Civil. O Mineirão está à disposição das autoridades policiais para colaborar com os trabalhos”.

Nota da Polícia Civil

“A Polícia Civil de Minas Gerais informa que a ocorrência de importunação sexual ocorrido no último domingo no Mineirão foi encaminhada à Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher em Belo Horizonte. Vítima e suspeito foram ouvidos. Por falta de elementos legais para ratificar a prisão em flagrante, o suspeito foi liberado.

Em relação ao registro de importunação que teria ocorrido no dia 10 de novembro, a PCMG informa que instaurou procedimento e realiza diligências para identificar o autor”.

Edição: Vitor Fernandes
Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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