Covid: Mais de 1,2 mil mineiros esperam vaga de leito em enfermaria

homem em leito dentro de ambulância
Vagas em leitos de enfermaria e UTI estão esgotadas em todo o estado mineiro (FOTO ILUSTRATIVA: Amanda Dias/BHAZ)

Quase 2 mil mineiros com Covid-19 sofrem – ou até mesmo agonizam – à espera de um tratamento básico adequado. O número assustador – que já pode ser maior no momento em que você lê esta reportagem – foi divulgado na noite dessa quarta-feira (24) pelo governador do estado, Romeu Zema (Novo), que também estendeu o fechamento de todas as cidades mineiras até abril.

“Hoje, temos 714 pacientes aguardando leito de terapia intensiva, e 1.242 à espera por leito de enfermaria no Estado. Estamos acompanhando um aumento rápido de pacientes em estado grave. Por isso, é muito importante que os municípios sigam a onda roxa”, informou o mandatário estadual pelo Twitter.

Zema publicou ainda gráficos da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) nos quais mostrava o aumento na quantidade de mortes e de casos de Covid-19 no estado. Os números mostram que foram registradas altas na última semana, entre 17 e 24 de março, de 6,98% nas mortes e de 6,27% no número de casos da doença

Pior momento

Minas Gerais enfrenta o pior momento da pandemia. O estado contabilizou, na manhã desta quinta-feira, 1.067.919 diagnósticos positivos e 22.571 mortes, segundo o Boletim Epidemiológico da SES-MG. Nas últimas 24h, foram registrados quase 14 mil novos casos no estado, além de 74 mortes devido ao novo coronavírus.

Boletim epidemiológico de hoje (Governo de Minas/Divulgação)

A média de idade dos casos confirmados é de 42 anos. Além disso, a faixa etária com maior número de casos é de 30 a 39 anos. Já a média de idade dos óbitos confirmados é de 72 anos, sempre segundo dados da SES-MG.

Cidades desprezam imposição

Com o anúncio da onda roxa para todo o estado, na semana passada, alguns municípios mineiros se pronunciaram afirmando que não seguiriam a decisão do Governo de Minas. No Sul do estado, a Prefeitura de Guaxupé voltou atrás, depois de receber orientação do MPMG (Ministério Público de Minas Gerais). No mesmo dia, Carmo do Meio também recuou e decidiu aderir ao programa

Carmo do Rio Claro, posteriormente, aderiu às restrições. Hoje, uma semana depois do início da onda, pelo menos duas cidades da região ainda estão sem aderir às regras do estado. Varginha interpretou a imposição feita pelo Governo de Minas como inconstitucional e Bom Sucesso também publicou um decreto municipal com restrições locais.

Domingo de Páscoa

O Governo de Minas anunciou que a onda roxa – fase de restrições mais rígidas do programa estadual contra a Covid-19 – será prorrogada em todo o estado até o dia 4 de abril, Domingo de Páscoa. O anúncio foi feito pelo secretário de Estado de Saúde, Fábio Bacheretti, ontem.

A SES-MG estima que os resultados do isolamento social aparecerão com, ao menos, 14 dias de onda roxa nos municípios mineiros. As medidas são reavaliadas a cada sete dias pelo Comitê Extraordinário Covid-19, do governo estadual, considerando indicadores como taxa de óbitos, número casos e ocupação de leitos. Na próxima quarta-feira (31), o grupo se reúne para decidir as orientações a serem seguidas após o feriado da Páscoa.

E o hospital de campanha?

Desde que Romeu Zema anunciou o colapso do sistema de saúde do estado, muitas perguntas têm passado pela cabeça dos mineiros e, sem sombra de dúvidas, uma das principais é: mas e o hospital de campanha? Logo no início da crise em 2020, uma megaestrutura foi montada no Expominas, na região Oeste de BH, para atender as vítimas do vírus.

Cinco meses depois, o hospital, que custou R$ 5,3 milhões – dos quais R$ 800 mil partiram de recursos públicos -, foi desmontado sem ter atendido um paciente sequer. Com isso, a população anda questionando se essa estrutura resolveria, agora, a situação caótica na saúde no estado.

Para o Governo de Minas, a resposta é não. Na semana passada, o governador descartou a criação de um hospital de campanha para atender pacientes infectados pelo novo coronavírus. Segundo Zema, não há profissionais de saúde suficientes para preencher as vagas de um possível hospital e, por isso, a solução não passa por este caminho.

Ao BHAZ, a médica Samya Ladeira, infectologista pediátrica, explicou que o hospital não estaria apto para receber pessoas com os sintomas mais graves da Covid-19. A especialista afirma que, além da falta de profissionais para trabalhar, ainda falta uma estrutura adequada de UTI para receber os pacientes. “Se não tem leitos de UTI, não faz sentido ter leitos de enfermaria”, explica. 

Onda roxa

A fase de restrições ainda mais rígidas foi anunciada no início deste mês – até então, as regiões com cenários mais graves eram enquadradas na onda vermelha, que não impunha restrições de circulação, por exemplo. Agora, no entanto, os municípios podem avançar para um estágio ainda mais grave, e, nesse caso, são colocados na onda roxa – é o caso, neste momento, de todas as cidades mineiras. A medida, com determinações rigorosas, foi criada diante do risco de um colapso do sistema de saúde.

Entre as restrições previstas pela onda, está a proibição de circulação de pessoas que não se deslocam para atividades essenciais; o toque de recolher das 20h às 5h; a proibição de reuniões presenciais, inclusive de pessoas da mesma família que não moram juntas; entre outras. Já os cultos religiosos permanecem autorizados em Minas. Confira o que está vetado em todo o estado:

  • Circulação de pessoas e veículos pra atividades não-essenciais;
  • Circulação de pessoas sem máscara em qualquer espaço público ou coletivo, ainda que privado;
  • Circulação de pessoas com sintomas de gripe, exceto para realização ou acompanhamento de consultas e exames médicos e hospitalares;
  • Realização de reuniões/eventos presenciais, inclusive entre pessoas da mesma família que não moram juntas;
  • Qualquer tipo de evento público ou privado que possa provocar aglomeração;
  • Funcionamento de bares e restaurantes (permitido somente para delivery)

Quais são as atividades essenciais?

De acordo com o Governo de Minas, são consideradas atividades essenciais na onda roxa:

  • setor de saúde, incluindo unidades hospitalares e de atendimento e consultórios;
  • indústria, logística de montagem e de distribuição, e comércio de fármacos, farmácias, drogarias, óticas, materiais clínicos e hospitalares;
  • hipermercados, supermercados, mercados, açougues, peixarias, hortifrutigranjeiros, padarias, quitandas, centros de abastecimento de alimentos, lojas de conveniência, lanchonetes, de água mineral e de alimentos para animais;
  • produção, distribuição e comercialização de combustíveis e derivados;
  • distribuidoras de gás;
  • oficinas mecânicas, borracharias, autopeças, concessionárias e revendedoras de veículos automotores de qualquer natureza, inclusive as de máquinas agrícolas e afins;
  • restaurantes em pontos ou postos de paradas nas rodovias;
  • agências bancárias e similares;
  • cadeia industrial de alimentos;
  • agrossilvipastoris e agroindustriais;
  • telecomunicação, internet, imprensa, tecnologia da informação e processamento de dados, tais como gestão, desenvolvimento, suporte e manutenção de hardware, software, hospedagem e conectividade;
  • construção civil;
  • setores industriais, desde que relacionados à cadeia produtiva de serviços e produtos essenciais;
  • lavanderias;
  • assistência veterinária e pet shops;
  • transporte e entrega de cargas em geral;
  • call center;
  • locação de veículos de qualquer natureza, inclusive a de máquinas agrícolas e afins;
  • assistência técnica em máquinas, equipamentos, instalações, edificações e atividades correlatas, tais como a de eletricista e bombeiro hidráulico;
  • controle de pragas e de desinfecção de ambientes;
  • atendimento e atuação em emergências ambientais;
  • comércio atacadista e varejista de insumos para confecção de equipamentos de proteção individual – EPI e clínico-hospitalares, tais como tecidos, artefatos de tecidos e aviamento;
  • de representação judicial e extrajudicial, assessoria e consultoria jurídicas;
  • relacionados à contabilidade;
  • serviços domésticos e de cuidadores e terapeutas;
  • hotelaria, hospedagem, pousadas, motéis e congêneres para uso de trabalhadores de serviços essenciais, como residência ou local para isolamento em caso de suspeita ou confirmação de covid-19;
  • atividades de ensino presencial referentes ao último período ou semestre dos cursos da área de saúde;
  • transporte privado individual de passageiros, solicitado por aplicativos ou outras plataformas de comunicação em rede.
Edição: Thiago Ricci

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